Portugal viveu, até agora, com um nutricionista para mais de 5500 escolas. A partir de hoje, haverá mais nove. Ainda assim, muito pouco para mais de 1,5 milhões de alunos.
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Para Liliana Sousa, nestas condições, batalhas como a da obesidade infantil dificilmente podem ser ganhas. A nova bastonária da Ordem dos Nutricionistas, que hoje toma posse, já estabeleceu as prioridades para os próximos quatro anos: quer ver criada a carreira de nutricionista no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e promete lutar contra a falta de profissionais ao serviço das populações.
“É necessário investir nos profissionais para se ganhar em saúde e para se poupar em custos associados à doença”, sintetiza Liliana Sousa.
“Não há nenhuma escola pública que tenha um nutricionista a trabalhar. Na verdade os poucos que existem, que são dez, estão apenas nas delegações regionais de educação. Temos muitas câmaras municipais sem nutricionistas e mesmo no SNS estamos longe de atingir os rácios desejáveis para cumprir as normas legais”, frisa a nova bastonária, que é nutricionista há 25 anos, especialista em nutrição clínica e trabalha no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos.
Liliana Sousa explica que não faltam nutricionistas – todos os anos saem das faculdades portuguesas 360 -, “faltam é oportunidades” e, depois, gizam-se programas que “não estão a ser conduzidos pelos profissionais certos”. A obesidade infantil é, diz, “um exemplo disso”: “É de facto uma batalha que se trava há décadas, mas na realidade, em termos de resultados, estamos muito aquém. As ações acabam por ser feitas por não nutricionistas, por professores ou por outros profissionais de saúde – enfermeiros, médicos, etc. Talvez o que esteja a faltar sejam nutricionistas colocados nos sítios certos para que estas ações possam ter os resultados esperados”.
Até agora, lembra, o Ministério da Educação tinha apenas um nutricionista. Agora, a partir de novembro, juntam-se mais nove, mas ainda assim, frisa, “com dez nutricionistas para as escolas não vencemos a obesidade infantil”. Em Portugal, recorde-se, uma em cada três crianças tem excesso de peso.
Uma Ordem mais presente
Com “muitos jovens a desistir da profissão”, outros a “emigrar por falta de oportunidades” e “uma enorme carência de recursos no terreno”, Liliana Sousa quer trabalhar de perto com as instituições de ensino, rever os estágios profissionais e “construir pontes para o acesso ao emprego e para a dignificação da profissão”. Acima de tudo, salienta a bastonária, que venceu as eleições por 16 votos (num total de 1858), quer ser “uma Ordem mais presente”.
“Desafiante” será ainda a uniformização das carreiras. É que, atualmente, os nutricionistas do SNS estão distribuídos por três carreiras distintas e a ideia é criar uma única.
Liliana Sousa derrotou, nas urnas, Bárbara Beleza por apenas 16 votos. O conselho geral tem, agora, assim, o mesmo número de conselheiros das duas listas e, no conselho jurisdicional, venceu, pelos mesmos 16 votos, a lista de Bárbara Beleza.