Grupo de 470 peregrinos do Vale do Sousa caminha nove horas por dia para chegar a Fátima amanhã. "Espírito de agradecimento a Deus" norteia a viagem.
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Eram 6.30 da manhã quando um grupo de 470 peregrinos do Vale do Sousa (Paredes, Penafiel, Marco de Canaveses, Felgueiras, Lousada, Castelo de Paiva e Paços de Ferreira) iniciou o seu percurso rumo a Fátima. Foi na quinta-feira. Após longa caminhada, os peregrinos fizeram a primeira paragem, por volta das 16 horas, na Associação Recreativa de Canelas, em Gaia. O espaço estava repleto de gente e de acessórios característicos de quem estava em peregrinação: colchões, sacos de viagem, garrafas de água, comida, produtos para relaxar os pés...
O padre Feliciano Garcís andava constantemente de um lado para o outro, para certificar-se de que estava tudo em ordem para a primeira noite de descanso. Faz parte da congregação religiosa "Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus" e da OCDP (Obra de Caridade ao Doente e ao Paralítico de Paredes), sendo este o 11º ano que faz a peregrinação. "Começámos por ser 80 pessoas e hoje somos 470. É preciso um ano de muito trabalho para assegurar as condições de que precisam", refere. A comida vem toda de Paredes, de empresas que fornecem gratuitamente ou a um preço acessível.
Até amanhã, quando chegar a Fátima, o grupo de peregrinos vai ter a mesma rotina: acorda por volta das 5.30 horas e uma hora depois começa a caminhada. "Andamos cerca de 9 horas por dia; quando chegamos, rezamos a missa e o terço, jantamos e, depois, vamos descansar", explica o padre Feliciano.
A equipa, por trás desta peregrinação, é composta por quase uma centena de voluntários: 32 enfermeiros, 30 cozinheiros, 15 pessoas para cargas e descargas dos camiões, 15 para distribuição de água e alguns psicólogos. Todos prestam os seus serviços sem cobrar qualquer montante. Maria de Fátima é a coordenadora dos enfermeiros da OCDP. "Pés pisados e com bolhas é o que mais aparece, mas a nossa equipa está perfeitamente equipada para tratar de quaisquer ferimentos", refere a enfermeira coordenadora. Durante o ano, a instituição angaria fundos para, agora, poder oferecer os serviços.
"Os peregrinos podem viajar sem gastarem um único cêntimo, têm tudo o que precisam a custo zero", refere o padre Feliciano. A única dificuldade com que deparam é a falta de uma via própria para caminharem. "Antes vinham muitas pessoas para cumprir promessas, agora o espírito é mais de agradecimento a Deus por tudo o que ele traz de bom para as suas vidas", termina.
Abel Correia, de 66 anos, vai pela primeira vez em peregrinação. Ao fim do dia ainda não se sentia cansado."Venho num testemunho de fé, para agradecer e louvar a Deus por tudo o que me tem feito", revela. "A minha mulher esteve muito doente e recuperou, senti uma gratidão profunda, tinha de vir agradecer-lhe", explica emocionado.
Acompanhada por familiares, Micaela Sousa, de 18 anos, é também uma principiante. "Sinto o corpo todo dorido, mas tinha curiosidade em saber como era e também venho cumprir uma promessa", explica. Aquilo que mais lhe dá ânimo para não desistir é "chegar ao pé da Mãe". "Com fé e dedicação não há obstáculos", diz com determinação.
As próximas paragens do grupo são em Oliveira de Azeméis, Águeda, Coimbra e Pombal, até chegar finalmente a Fátima, onde a adoração e oração são a recompensa pelos sacrifícios passados.