Meio milhão encontrou-se com Francisco pela primeira vez em ambiente de grande euforia. Líder católico alerta para perigos do mundo virtual e da utilização dos dados para pesquisas de mercado.
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Cerca de meio milhão de jovens recebeu o Papa Francisco num ambiente de grande euforia, ontem, no Parque Eduardo VII, no primeiro encontro entre os peregrinos e o Santo Padre. Francisco usou o papamóvel pela primeira vez nesta visita, naquele que foi, até agora, o dia mais emotivo da Jornada Mundial da Juventude. “É o dia mais importante das nossas vidas”, disse ao JN uma peregrina colombiana. O líder da Igreja Católica tratou os jovens por “amigos” e frisou que, na Igreja, “há lugar para todos”.
Bandeiras de todos os países esvoaçavam ao som de vários cânticos, entoados por jovens de todo o Mundo, ao início da tarde, no Parque Eduardo VII, em Lisboa, num ambiente de grande expectativa e emoção. Enquanto uns se refrescavam com água e aproveitavam para dormir na relva, outros dançavam entusiasmados com a presença de Francisco. A cerimónia teve dança, música e fado.
“Cheguei ao meio-dia. Não nos importamos de esperar ao sol e não nos cansamos. Temos é de estar alegres!”, disse Alex, que veio de muito longe. “Sou da Guatemala, estivemos muitas horas no avião, mas não nos importamos porque é um momento único e muito emocionante. É o representante de Cristo na Terra”, frisou, a poucas dezenas de metros do palco-altar.
Pouco depois, o chefe de Estado do Vaticano atravessou o jardim de papamóvel, com vários peregrinos a correrem para tentarem vê-lo mais de perto. Pelo trajeto, quebrando o protocolo como vem sendo hábito, Francisco acedeu a beber um tradicional chimarrão argentino, entregue por um jovem que estava entre a multidão.
Já no palco, foi a primeira vez que falou de viva voz aos jovens católicos, encorajando-os a não terem medo de ser quem são. “Deus ama-nos como somos, não como a sociedade quer”, disse aos cerca de 500 mil católicos que o ouviam atentamente.
Numa mensagem em que frisou a sua alegria por estar em Lisboa, Francisco tratou os jovens por “amigos” e frisou que, “na Igreja, há espaço para todos, para todos. Ninguém fica de fora, ninguém está a mais”. Sem respeitar o discurso escrito, o Papa improvisou e falou diretamente com os peregrinos insistindo para que repetissem “alto” que “há espaço para todos”.
Na conversa, houve também referências ao mundo virtual. “Quero fazer-te notar uma coisa: muitos, hoje, sabem o teu nome, mas não te chamam pelo nome. Com efeito, o teu nome é conhecido, aparece nas redes sociais, é processado por algoritmos que lhe associam gostos e preferências. Mas tudo isso não interpela a tua singularidade, mas a tua utilidade para pesquisas de mercado”, alertou, salientando ainda que “nenhum de nós é um número. É um rosto, uma cara, um coração”.
“Multidão imensa”
Melissa Furtado, cabo-verdiana, pela primeira vez em Portugal, viu o Papa num dos ecrãs espalhados ao longo do Parque Eduardo VII, mas a distância não foi um problema. “Gostava de estar mais perto, mas é uma multidão imensa e temos de respeitar todos os que o querem ver. É maravilhoso estar aqui a viver este momento com nações de vários países. Ver a Santidade significa tudo, vale muito a pena todo o sacrifício”, garantiu. Daniela Patinho, da Colômbia, estava emocionada. “É o dia mais importante das nossas vidas. É a primeira vez que vejo o Papa e vê-lo tão perto alegra-nos muito”.
Garonce, francesa, sentia o mesmo. “É um momento único na minha vida. Temos muita sorte em ver o Papa hoje a rezar por todo o mundo. É um homem incrível, é Deus na terra, muito importante para mim”, frisou, desvalorizando as horas de espera. “Temos água e protetores, antecipamos este dia”.