Presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia diz que há mais benefícios do que riscos associados à vacinação.
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O virologista e professor da Nova Medical School, Paulo Paixão, diz que a adesão dos jovens à vacina tem sido positiva, até por estarmos em férias, apela à vacinação e deixa uma certeza: o vírus não vai deixar de circular.
Com encara a resistência de algumas pessoas à vacinação dos mais jovens contra a covid-19?
Há resistência em todos os grupos etários, mas claro que nos jovens tem havido mais. Os argumentos a favor da vacinação dos jovens não são tão fortes como serão nos adultos, sobretudo, nos idosos. Obviamente, se compararmos com os efeitos da vacinação num escalão etário em que a mortalidade é muito menor com os efeitos num escalão etário em que a mortalidade é muito maior, claro que os primeiros não são tão visíveis.
Comparando os riscos com os benefícios, o que deve prevalecer no caso destes menores?
Os argumentos a favor da vacinação não são esmagadores, mas têm um peso significativo. Está demonstrado que o risco, por exemplo, de miocardite associado à covid-19 nos jovens é cerca de seis vezes superior [nos não vacinados]. Se juntarmos a tudo isso uma mortalidade, que mesmo sendo muito baixa, existe... A miocardite por vacinação nos jovens é praticamente autolimitada para todos os casos - não há mortalidade associada neste grupo etário. Podemos juntar ainda os efeitos da "long covid" - numa percentagem importante, os jovens mantêm sintomas [da covid-19] ao fim de muitos meses, que dizem afetá-los nas suas atividades diárias. Depois há outros argumentos importantes do ponto de vista epidemiológico. Com a variante delta a circular, se não tivermos os jovens vacinados, o vírus vai circular muito facilmente como já ficou demonstrado nas últimas semanas de aulas. Outro aspeto muito importante é o acesso dos jovens às suas atividades físicas e desportivas e o contacto com os familiares idosos. Juntando tudo isto, para mim, a evidência é a favor da vacinação dos mais jovens.
As pessoas têm razões para estar preocupadas com os efeitos da vacinação?
Infelizmente não podemos garantir nada a 100%. Não podemos dizer que de certeza absoluta não vai acontecer nada. Sabemos que pode acontecer dois ou três casos de miocardite por cada 100 mil jovens. O que dizemos é: com a vacinação, o risco é muitíssimo baixo; sem a vacinação, o risco é baixo, mas é substancialmente mais elevado. O que sabemos é que até agora nenhuma das reações foi mortal.
É importante vacinar os jovens dos 12 anos para a imunidade de grupo?
Quanto mais se vacinar melhor. Mesmo chegando aos 80% ou 85% [da população vacinada], a imunidade de grupo não vai funcionar como pensávamos no início da pandemia, em que achávamos que o vírus ia deixar de circular. Isso não existe. A questão não é tanto a imunidade de grupo, mas é: quanto mais pessoas estiverem vacinadas, menos o vírus vai circular. Sobretudo num grupo etário acima dos 12 anos, nos adolescentes, em que o vírus circula com muita facilidade, são mais rebeldes. Se não forem vacinados, não tenho dúvidas de que a grande maioria dos jovens que ainda não foram infetados irão ser nos próximos meses.