Comichão ou pele irritada? A roupa barata que compramos tem riscos para a saúde e indústria
O consumo galopante de fast fashion, acirrado por plataformas que vendem roupa que escapa aos padrões de qualidade da União Europeia, traz riscos para quem compra e desafios para quem vende. Profissionais de saúde apelam a um maior cuidado e a indústria defende mais fiscalização às gigantes Shein, Temu ou AliExpress.
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Ter comichão ou ficar com a pele irritada depois de usar roupa nova pode tornar-se mais frequente e até já se converteu numa “trend” (tópico de interesse) nas redes sociais. De acordo com o dermatologista Osvaldo Correia, coordenador da Epidermis e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, “é crescente o número de reações irritativas e alérgicas” provocadas por têxteis de fraca qualidade que, além de prejudicarem a saúde, degradam o meio ambiente. “Devemos estar mais atentos. A nossa pele é o nosso principal órgão de comunicação”, corrobora Fernando Ribas. O profissional de saúde responsável pela Clínica de Dermatologia Dr. Fernando Ribas, no Porto, considera necessário “ter um maior controlo” sobre a indústria, mas recorda que a maioria dos consumidores privilegia o sentido estético e desvaloriza a composição dos têxteis. “Há produtos que, de facto, são tóxicos e que na União Europeia não entram, mas se forem fabricados lá fora, não há controlo”.
Apesar de reconhecer que a aquisição de “fast fashion” pode levar a um aumento de reações irritativas e alérgicas, Cristina Lopes sublinha que “não há um número brutal de casos”. “Estas plataformas têm roupas muito baratas e realmente é apetecível. Agora, alguma coisa pode ficar pelo caminho. As pessoas têm que ter consciência que a qualidade das peças de vestuário que utilizam pode impactar a sua saúde, nomeadamente a saúde da pele. E isso não é de menosprezar”, sustenta a coordenadora da Unidade de Imunoalergologia do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos. A profissional de saúde alerta que, em qualquer caso, “a roupa nova deve ser sempre lavada a temperaturas elevadas, 40 graus no mínimo” e explica que caso haja uma reação cutânea, “é preciso fazer uma avaliação em consulta”. “Temos de ter a noção que a pele é o maior órgão do corpo humano. É o nosso primeiro mecanismo de defesa, é a nossa primeira barreira anatómica com o meio que nos envolve. Protege-nos de infeções. É importantíssima na sensação térmica, táctil, no bem-estar e, por isso, deve ser cuidada”, reforça.