A Comissão Nacional para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, que aguarda um despacho do Ministério da Administração Interna para começar a avaliar os grandes incêndios, não pretende "perseguir culpados", mas sim apontar melhorias, assegura Tiago Oliveira, presidente da Associação de Gestão de Fogos Rurais (AGIF). Vão ser analisados fogos com mais de 72 horas ou 500 hectares para apontar melhorias. Resultados serão divulgados em outubro.
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Tiago Oliveira, presidente da Associação de Gestão de Fogos Rurais (AGIF), que lidera aquela comissão, diz que haverá uma equipa de Lições Aprendidas que se irá debruçar sobre todos os fogos que durarem mais de 72 horas ou consumirem mais de 500 hectares.
É o caso do da serra da Estrela, que merecerá toda a atenção, "não só pela dimensão, mas por ter muita duração, muitas decisões". "A prevenção foi feita? Se foi, porque houve uma ignição às 3 horas da manhã? O ataque inicial foi pronto? Se falhou, no ataque estendido porque não aproveitaram a faixa de gestão de combustíveis que estava no cimo da serra? Vamos ter de levantar muita informação e falar com as pessoas que tomaram as decisões", exemplifica Tiago Oliveira.
A Comissão Nacional é constituída por dirigentes de diversas entidades, nomeadamente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, GNR, PSP, Liga dos Bombeiros Portugueses, entre muitas outras. Dentro desta Comissão, explicou Tiago Oliveira, há um grupo técnico de Lições Aprendidas, que vai avaliar os fogos com mais de 72 horas de duração ou que consumirem mais de 500 hectares, "refletir sobre as oportunidades e propor melhorias nos processos".
Não estamos preocupados em perseguir culpados, a lógica é aprender com o erro e melhorar os processo
As "evidências e análises feitas pelos técnicos das Lições Aprendidas serão discutidas e melhoradas com base num painel de cientistas [de universidades]", produzindo uma "avaliação independente e transparente", assegura.
O presidente da AGIF adianta ainda que os primeiros resultados do trabalho da comissão deverão ser tornados públicos em outubro. "Não estamos preocupados em perseguir culpados, a lógica é aprender com o erro e melhorar os processos", sublinha.
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António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), insiste, porém, na criação de uma nova comissão independente que se debruce sobre o "caso muito específico da serra da Estrela e tudo o que se passou à volta", desde "as denúncias apresentadas por autarcas" a questões que a Liga pôde "observar no terreno" e informações recolhidas em "conversas com comandantes e bombeiros no local".
Evitar contaminação entre posições
Esta comissão, defende Nunes, deverá ser composta por "elementos que não pertençam à estrutura do Estado, para que não haja aqui qualquer contaminação entre as posições que um organismo vai ter e apresentar em sede de comissão e aquilo que foi a realidade no terreno".
"Não sei se houve falhas, mas ouvimos autarcas e operacionais no Teatro de Operações e convém saber se isso é verdade e o melhor é fazer essa avaliação. Se for verdade, encontrar os caminhos para se alterar o que há a alterar. Se for mentira, ainda bem, quer dizer que temos um sistema mais robusto do que aquele que estávamos a imaginar e as críticas eram infundadas", conclui o presidente da LBP.