Portugal e Espanha sempre foram considerados em termos energéticos como uma ilha, isto porque as ligações que os dois países têm ao resto da Europa são insignificantes.
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A situação traz algumas vantagens, como aconteceu com o corte do fornecimento russo à Europa após a invasão da Ucrânia, em casos como um apagão desta segunda-feira, deixa os dois países em situação de fragilidade.
Um problema que tem mais de duas décadas e que os governos de Portugal e de Espanha estavam perto de chegar a um acordo para negociar com França mais interligações energéticas.
Em julho do ano passado, a ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho reuniu-se com a sua homóloga espanhola, Teresa Ribera, velhas conhecidas de Bruxelas, para combinarem unir esforços e enfrentar a oposição francesa às interligações elétricas à Europa. É que a chamada ilha energética precisa de ultrapassar os Pirineus para comprar ou vender energia à Europa, sendo que os franceses são os mais renitentes nesta ligação porque são os maiores produtores de eletricidade do continente com as suas centrais nucleares.
Por isso, Maria da Graça Carvalho fez questão de frisar que esta não pode ser só uma negociação da Península Ibérica com França, mas também com a Comissão Europeia. "Combinámos a presença conjunta nas reuniões de negociação com França e pedir à Comissão Europeia que isto seja uma questão europeia e não uma questão da Península Ibérica com França", afirmou na altura a ministra.
Maria da Graça Carvalho dizia há pouco mais de meio ano que a questão das interligações energéticas é também de extrema importância para os países do centro da Europa. "Se queremos um mercado europeu, esta questão tem de ser resolvida e é uma questão europeia e falaremos com a senhora von der Leyen para que nos ajude neste desígnio do mercado europeu de eletricidade e de energia", dizia a ministra ainda muito longe de imaginar que o dia 28 de abril de 2025 ficará na história como o maior apagão do país.
A eletrificação dos transportes e dos carros, está a fazer com que o consumo de eletricidade esteja a disparar em toda a Europa, sendo urgente uma maior interligação entre os países-membros, coisa que não tem acontecido com a Península Ibérica e o resto da Europa. "As renováveis exigem mais interligações entre os países e a modernização das infraestruturas é urgente", dizia Maria da Graça Carvalho, acrescentando que "Espanha e Portugal querem fazer parte da segurança energética da Europa".
Um outro argumento para que Portugal e Espanha deixem de ser uma ilha energética é a própria segurança energética da Europa. Durante a crise energética, agravada pela invasão russa da Ucrânia, Espanha e Portugal não puderam ajudar mais os restantes países europeus porque tinham uma interconexão débil com o resto da Europa.
Como o apagou chegou?
Como Portugal e Espanha estão interligados por nove linhas ao longo fronteira que facilitam a troca de energia entre os dois países, tudo que acontece num dos lados tem repercussões em ambos os lados. Nos bons e nos maus momentos, porque esta interligação é fundamental para a eficiência do Mercado Ibérico de Eletricidade (MIBEL), a bolsa onde são negociadas as compras e vendas de eletricidade, que depois têm de passar a fronteira. Por isso, ao longo dos anos tem havido um forte investimento da Rede Elétrica Nacional (REN) portuguesa e espanhola, sendo o mais recente um novo eixo de interligação entre o Minho e a Galiza, ligando as subestações de Beariz e Fontefría em Espanha, e a zona do Porto em Portugal, passando pelas subestações de Ponte de Lima e de Vila Nova de Famalicão.