Comunidade cigana prepara novos protestos contra o Chega: "Ninguém nos vai calar"
O presidente da Associação de Solidariedade Social com a Comunidade Cigana e Minorias Étnicas do Médio Tejo (ACMET) garante que as manifestações contra o Chega vão continuar a marcar a campanha eleitoral, considerando que André Ventura está a "implantar o ódio" e a "usar dados falsos" para denegrir a comunidade.
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Pelo terceiro dia consecutivo, o Chega foi recebido por um protesto da comunidade cigana, desta vez em Viana do Castelo, onde o partido realizou uma arruada, na manhã desta sexta-feira. Depois de Aveiro e Braga, André Ventura voltou a ver os dedos em riste de pessoas que estão "revoltadas" pela forma como o presidente do Chega se dirige às pessoas daquela etnia. Após terem "tentado de tudo", o último recurso foi a manifestação nas ruas, que de acordo com Almerindo Lima, não vai parar. "Ninguém nos vai calar. Nós vamos manifestar-nos até ao fim das eleições", assegura, ao JN.
Segundo o presidente da ACMET, os três protestos realizados até ao momento não partiram da mesma organização, mas são ações concertadas, já que "existem várias entidades que trabalham o associativismo dentro das comunidades ciganas". Em causa estão as acusações de que a comunidade cigana tem sido alvo por parte do líder do Chega, que contribuem para o "racismo estrutural" e para a "discriminação". "A nossa preocupação é a informação que ele passa, completamente diferente dos números que são públicos e que toda a gente pode consultar. Os argumentos são sempre os mesmos: somos subsidiodependentes, não querem trabalhar e casam as meninas precocemente", explica Almerindo Lima, detalhando que a comunidade cigana representa 3,8% do total dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI).
A conclusão consta de um relatório produzido pela subcomissão para a Igualdade de Oportunidades e Família, integrada na comissão parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura, no âmbito do Ano Europeu para o Diálogo Intercultural, em 2009. "[André Ventura] está a implantar é o ódio. E usa dados falsos e situações pontuais para fazer política. É isso que nos revolta", aponta o presidente da ACMET. Almerindo Lima explica que, numa primeira fase, a comunidade cigana optou pelo silêncio, depois passou para a apresentação formal de queixas ao Ministério Público, e por fim para a sensibilização. Agora, decidiu manifestar-se, ainda que admita que o resultado possa, em certa parte, beneficiar o Chega nas eleições. "Nós colocámos essa situação na balança quando pensámos neste tipo de ação. Mas nós tínhamos de fazer alguma coisa para que as entidades competentes também fiquem alertas com o que se está a passar", afiança o dirigente.
Sobre a queixa apresentada por duas mulheres à PSP por agressões durante a arruada do Chega, em Braga, na quinta-feira, o organizador da manifestação da comunidade cigana, preparada em conjunto com o grupo ativo antifascista cigano daquela cidade, afirma ao JN desconhecer qualquer ligação com o protesto realizado.
Terceiro dia consecutivo de protestos
Durante a manhã, em Viana do Castelo, a campanha do Chega viveu um novo momento de tensão, com cerca de duas dezenas de membros da comunidade cigana a gritarem acusações de racismo e fascismo, perante a presença de André Ventura. "Não têm mais nada para fazer do que vir para aqui a toda a hora? Não têm trabalho para fazer? Vêm para aqui a toda a hora, vão-se embora, não andem atrás de mim pelo país todo", atirou o presidente do Chega. "Vão para a vossa terra, vagabundos", proferiram alguns membros da comitiva do partido.
O momento contou com elementos da PSP fardados e à paisana, que intervieram para acalmar os ânimos e evitar o contacto direto entre elementos de ambos os lados. Na quinta-feira, em Braga, a altura mais tensa aconteceu quando André Ventura chegou ao Arco da Porta Nova, no centro da cidade, e os manifestantes cuspiram na direção do líder do Chega, atingindo-o. "Continuamos a ter um conjunto de ciganos que são, nalguns casos, os mesmos, que andam pelo país todo. Têm de estar organizados. Eu não sei se é a própria comunidade que se organiza, se são os partidos de esquerda, não sei. Sei que estão organizados e sei que estão plantados", afirmou Ventura, sugerindo que as pessoas são "plantadas".
Sobre estas insinuações, Almerindo Lima rejeita que haja um grupo a "perseguir" o presidente do Chega, sublinhando que as comunidades ciganas são "heterogéneas", "democráticas" e não estão "ao serviço de qualquer força política".