"Comunidade portuguesa está honrada e sente falta de alguém que possa dar-nos alento"
Comunidade portuguesa está entusiasmada por receber Marcelo, mas receia pela insegurança na África do Sul.
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Cada vez mais envelhecida e reduzida, a comunidade portuguesa na África do Sul está a encarar, com grande entusiasmo, a ida de Marcelo Rebelo de Sousa ao país, por ocasião do 10 de Junho. Os portugueses vivem com medo devido ao aumento da criminalidade, motivada pelo elevado desemprego e a subida do custo de vida. Esperam que a visita traga esperança e novas oportunidades para o futuro. A data já estava marcada há três anos, mas a crise pandémica adiou as comemorações.
Na comitiva, estará o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque. O périplo começa, hoje, num encontro com a comunidade na Cidade do Cabo (ler Programa). Em Portugal, as festividades vão decorrer na cidade de Peso da Régua.
Os portugueses na África do Sul são a 10.º comunidade que mais remessas envia para Portugal. Há "105 mil portugueses inscritos na rede consular", mas o número de lusitanos e de luso-descendentes pode ascender a 300 mil, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros. A diáspora "está dispersa por todo o país", com maior presença nas áreas metropolitanas de Pretória, Cidade do Cabo e Joanesburgo. Vasco Abreu, conselheiro português na área consular de Joanesburgo, traça o retrato de uma comunidade "envelhecida e tem diminuído" ao longo dos anos. Mais de metade é "oriunda da Madeira".
Os mais jovens, como não encontram oportunidades no mercado de trabalho "devido às leis do país", optam por emigrar para países anglo-saxónicos, como a "Austrália, Canadá e Estados Unidos", acrescenta. A maioria, sobretudo as primeiras vagas de emigrantes, dedica-se à agricultura, ao comércio de retalho, à indústria, à construção civil e à restauração. Na província do Western Cape, destaca-se o setor piscatório. As gerações mais novas e mais qualificadas ocupam posições de destaque (altos quadros) em empresas africanas. O português é uma das línguas lecionadas no sistema educativo da África do Sul, com mais de mil alunos.
Bacalhau para o almoço
Apesar da próxima semana ser de festa, a insegurança e o aumento dos preços nos produtos mais básicos, como a farinha de milho, estão entre as preocupações dos portugueses.
"A criminalidade está no topo das nossas preocupações, vivemos com receio", relata Vasco Abreu. "O país está à beira da rutura. Estamos no início do inverno e temos cortes de energia várias vezes por dia". O cenário é confirmado por João Contente, presidente da União Cultural Recreativa e Desportiva Portuguesa, em Joanesburgo. "As autoridades têm menos poder sobre os criminosos. Temos de estar mais vigilantes na rua para ver se alguém nos faz mal", desabafa. Na próxima quarta-feira, a comitiva portuguesa visita a União Cultural, que é um dos clubes mais antigos de África do Sul. Aí, será recebida por "mais de 40 associações e organizações portuguesas".
Para o almoço, com mais de mil compatriotas, João Contente assegura que não vai faltar comida nacional: salgadinhos, asas e pernas de galinha, Bacalhau à Brás ou espetadas com milho frito", enumera. "A comunidade está muito honrada com esta visita. Sentimos a falta de alguém que possa dar-nos um pouco de alento". O conselheiro Vasco Abreu acredita que "é uma demonstração que o Poder Central que está atento e preocupado com a comunidade. Estamos a sentir muita alegria". Apenas lamentam a ausência de voos diretos da TAP entre a África do Sul e Portugal.