Cerca de 500 pessoas saíram esta sexta-feira à rua, no Porto, numa marcha que assinalou o Dia da Visibilidade Trans. Combater a transfobia, assegurar um SNS inclusivo que garanta os serviços necessários e exigir o fim da exclusão no acesso ao trabalho foram algumas das reivindicações mais ouvidas.
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O desfile, que partiu da Praça dos Poveiros, passou pela Rua de Passos Manuel e foi a Santa Catarina, terminou na Praça D. João I. Nico é um dos mentores da primeira marcha do género na Invicta. Antes só tinha havido uma concentração, no ano passado, em Esposende. Ao JN, conta que a comunidade de pessoas trans é cada vez maior no Porto e que nunca, como agora, se justificou uma marcha que desse visibilidades "a todes".
"É positivo que esteja a crescer, mas, por outro lado, quer dizer que há cada vez mais pessoas a precisar de ajuda. O serviço do Hospital de Santo António, por exemplo, devia ser melhor. Já ouvi muita gente dizer que foi discriminada ou a lamentar que as consultas são demoradas", afiança, embora admita que é "uma luz ao fundo do túnel".
Owen Rodrigues diz ser transmasculino e veio à marcha com a filha de cinco anos lutar por uma vida "mais segura". Ao JN, critica a falta de visibilidade de pessoas que se encontram na mesma condição e lamenta que os pronomes neutros não estejam normalizados na sociedade.
"É pena que não sejam explicados na escola e que não sejam incluídos na educação. É muito grave a nossa existência não ser reconhecida. Este mundo está muito normalizado para a minha filha", afirma.
Já João Pires assume-se como não binário. "Não me limito ao masculino e feminino", começa por assumir. Apesar de nunca ter sido incompreendido, esteve na marcha em solidariedade com todos aqueles que a "sociedade quer silenciar". E dá o exemplo das mulheres trans: "Têm uma esperança média de vida muito abaixo do que o cidadão normal e isso é horrível. Temos que fazer alguma coisa para mudar isso", alerta.
Para Maria João Alves, pessoa trans, a discriminação é uma realidade. Horas antes de se juntar à comunidade, voltou a ser ridicularizada e alvo de comentários jocosos. Mesmo assim, nada a demoveu porque "é nas ruas que se luta pelos direitos". "Profissionalmente, a gente encontra barreiras. Estamos aqui para debater temas necessários e mostrar diversidade de pessoas, de géneros e identidades".