O 22.º Congresso do PCP terminou hoje em Almada com a reeleição unânime do secretário-geral, após três dias em que os comunistas identificaram uma "ofensiva ideológica" sem precedentes contra o partido, assumiram dificuldades e apelaram à resistência.
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A intervenção final do líder comunista, Paulo Raimundo, sintetizou o tom geral dos três dias da reunião magna comunista, com a afirmação de que este "não é momento para desânimos", um pedido de confiança no partido, que "vai resistir, acumular forças e criar condições para avançar e crescer", apesar da situação que enfrenta, que é "de grande exigência", em que "o inimigo tem muita força e muitos meios".
Raimundo considerou que a reunião comunista "cumpriu todos os seus objetivos" e foi "uma manifestação de força, determinação, coragem e de esperança para milhares e milhares que justamente ambicionam uma vida melhor".
"Quem achava que vínhamos ao 22.º Congresso para carpir mágoas, mais uma vez se enganou", afirmou, numa intervenção em que manifestou confiança em relação às eleições autárquicas de 2025, frisando que o projeto da CDU para o Poder Local não se confunde com nenhum outro e pedindo mobilização de ecologistas e independentes. Afastou assim coligações formais com outras forças de esquerda, designadamente com o PS.
Quatro anos depois da última reunião magna, realizada em pandemia com um número de delegados reduzido, e quando o PCP ainda apoiava no parlamento o governo do PS, os comunistas passaram de 12 para quatro deputados. Há dois anos elegeram Paulo Raimundo como secretário-geral, sucedendo a Jerónimo de Sousa, através de uma eleição feita em Comité Central, sem congresso, conforme o funcionamento interno do partido prevê, acompanhada da realização de uma conferência nacional.
O dia de sábado ficou marcado pelas intervenções do antigo líder Jerónimo de Sousa, aplaudido de pé ainda antes de começar a falar, mas também pelos discursos do eurodeputado João Oliveira e do vereador em Lisboa e antigo candidato presidencial João Ferreira, ambos a conseguirem levantar o congresso com palmas e gritos de "PCP, PCP", de punho direito erguido.
Jerónimo de Sousa defendeu que a História mostrou que "o PCP, perante as maiores das dificuldades e adversidades que enfrentou, encontrou sempre força para se erguer e avançar e cumprir os seus compromissos com os trabalhadores e o povo".
A "violenta ofensiva contra o partido", a que muitos delegados e dirigentes se referiram, constou também da intervenção de João Oliveira, que falou igualmente do período "difícil e exigente" em que os comunistas exerceram a sua ação desde o último congresso, marcado pela pandemia e a "escalada de confrontação e guerra".
Contudo, quem queria um partido "derrotado e em debandada", encontrou-o "firme e unido", defendeu o eurodeputado, enquanto João Ferreira considerou ser essencial "alterar a correlação de forças", atraindo tradicionais eleitores do PS e quem está a votar em "projetos reacionários".
O dirigente Francisco Lopes, do núcleo duro da direção comunista (simultaneamente da Comissão Política e do Secretariado), interveio hoje para garantir que o partido não vai ficar a "olhar com nostalgia" para o passado nem vai estar "à espera de ter mais influência e mais organização para agir".
Também o dirigente Jorge Cordeiro interveio hoje, argumentando que desvalorizar intensidade da atual "ofensiva" contra o PCP "só serve para desarmar o partido e absolver o ódio anticomunista que preenche o espaço mediático".
As críticas à comunicação social foram também marcando o tom de muitas intervenções, com o ex-deputado Agostinho Lopes a designar uma "comunicação social sectária, reacionária e inculta, guiada pela voz do dono de centrais de desinformação do imperialismo".
As intervenções de delegados sobre as suas experiências e conquistas ao nível regional e local, em particular nas células de empresa, foram uma constante, assim como discursos sobre a situação internacional, "contra a guerra e pela paz", no contexto do chamado "internacionalismo solidário", que hoje viveu um momento emotivo dedicado à solidariedade para com o povo palestiniano, com uma prolongada ovação e gritos de "Palestina vencerá!".
O novo Comité Central do partido foi eleito no sábado ao final da tarde, em sessão fechada à comunicação social e por voto eletrónico, com seis votos contra e oito abstenções, consagrando uma direção comunista em que a média de idades passa dos 49 anos consagrados em 2020 para os 48 e a proporção de mulheres aumenta de 27,3% para 30,4%.
A Comissão Política e o Secretariado do PCP, órgãos executivos do partido, foram eleitos por unanimidade pelo novo Comité Central, numa reunião que decorreu no sábado à noite, mas cujos resultados só hoje foram divulgados.
Nessa reunião, o novo Comité Central também reelegeu o secretário-geral do partido, Paulo Raimundo, por unanimidade, sendo que o próprio "entendeu não votar na sua própria candidatura", e a Comissão Central de Controlo, igualmente por unanimidade.
A versão final da proposta de resolução política também foi hoje aprovada pelos cerca de mil delegados sem qualquer voto contra e com apenas quatro abstenções, numa votação de braço no ar.
Os trabalhos do Congresso terminaram pelas 13:38, oito minutos depois da hora marcada, seguindo-se a desmontagem do espaço pelos delegados.