O Partido Comunista Português (PCP) reconheceu que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foi um amplo encontro multicultural, elogiando a mensagem de paz do Papa Francisco. Os comunistas, no entanto, querem ver esclarecidos os ajustes diretos.
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Segundo uma nota publicada no site do PCP, os comunistas destacam que a JMJ, evento que juntou cerca de 1,5 milhões de peregrinos, “representou uma oportunidade para um amplo encontro multicultural, para dar a conhecer o nosso País e o seu povo a milhares de jovens de muitos países de todos os continentes”.
O PCP entende que a JMJ ficou marcada pelos temas que o Papa Francisco fez questão de mencionar junto dos jovens, nomeadamente o “tema da paz e dos caminhos para a solução dos conflitos e guerras, o contraste entre a aposta armamentista em prejuízo da resposta e combate às desigualdades”. O partido lamenta apenas a “prática dos que, fingindo enaltecer as palavras do Papa, as ignorem na hora de agir”.
E esclarecem que embora Portugal seja um” Estado laico”, a separação entre a igreja e o Estado, não exclui que “haja cooperação de vário tipo na realização de iniciativas, particularmente com a Igreja Católica dada a sua expressão em Portugal”.
“A laicidade do Estado afirma-se e realiza-se, particularmente, pela não ingerência de poderes religiosos sobre as esferas de decisão política, pela não assunção e difusão da doutrina religiosa, a partir de poderes e instrumentos públicos”, acrescentam.
Também a Juventude Comunista Portuguesa (JCP) já havia elogiado a organização do evento, com o próprio presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a realçar que a posição da JCP mostra que o “apreço pelas jornadas (…) foi transversal à sociedade portuguesa", afirmou.
“Insuficiências que persistem no País”
No entanto, o PCP nota que o evento “pôs em evidência muitas das insuficiências que persistem no País designadamente no plano das infraestruturas e de acesso a serviços”.
Para o partido liderado por Paulo Raimundo, é essencial que o investimento realizado pela organização do evento seja colocado à disposição da população para o “uso a que se destinam”, servindo de exemplo o território da Expo 98 que “revela como são fortes as pressões para adulterar as funções originárias a partir dos interesses urbanísticos e especulativos a eles associados”, entendem.
O PCP realça que as práticas de menor escrutínio relacionadas com a gestão da JMJ devem ser esclarecidas, nomeadamente os contratos feitos por ajuste direto. Os comunistas atestam que caso se venham a comprovar “irregularidades e aproveitamentos” são “resultado directo de opções e práticas ligadas à política de direita e a interesses económicos dominantes”.
“Não deve deixar de se registar o silêncio de alguns quando se trata da entrega de recursos vultuosos e cíclicos a eventos associados ao grande capital de que é exemplo a Websummit”, referem.
Na nota publicada, os comunistas criticam ainda o aproveitamento político do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e denunciam os pretextos levantados pela Jornada para “questionar direitos, criminalizar a luta dos trabalhadores, legitimar a limitação de liberdades e garantia”.