A CNA exigiu, esta sexta-feira, uma reunião urgente com o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, para pedir soluções para os problemas que podem fazer com que muitos agricultores e produtores de gado deixem a atividade. Se a resposta não for satisfatória poderá haver novos protestos na rua.
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Está em causa a reversão dos cortes nas ajudas da Política Agrícola Comum aos compartes de baldios, a perda de rendimento motivada pelo aumento dos custos de produção e a falta de apoio à agricultura familiar, entre outros problemas.
Vítor Rodrigues, dirigente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), disse, em Vila Real, que “o programa do Governo não diz uma única vez ‘baldios’, ‘pequena e média agricultura’ ou ‘agricultura familiar’ e ‘Casa do Douro’. Ou seja, sublinhou, “não assume um compromisso claro de acabar com esta injustiça que é a de os agricultores receberem abaixo dos custos de produção”.
Estas “omissões” são consideradas pela CNA como “bastante preocupantes”. Na opinião de Vítor Rodrigues, “deixam aberta a ideia de que o Governo não quer atacar os problemas que têm vindo a ser levantados e as soluções que têm vindo a ser reclamadas”. Daí que o dirigente tenha insistido que são necessários “compromissos concretos que não estão no programa do Governo” e que já foram reclamados durante a manifestação promovida pela CNA, no dia 7 de fevereiro, em Vila Real.
“Só abrindo o melão é que se sabe o que está lá dentro”, considerou Vítor Rodrigues referindo-se à expectativa que tem sobre o atual titular da pasta da Agricultura no Governo da AD. “Quer dizer que este ministro, enquanto foi eurodeputado, votou a favor da atual Política Agrícola Comum. É a mesma que gerou o descontentamento dos últimos meses e cabe-lhe a ele dar sinais de que tem sensibilidade e que esta resulte nas medidas concretas que tanto reclamamos”, reforçou o dirigente da CNA.
Não havendo respostas, os agricultores podem voltar aos protestos. “Não desmobilizaremos e estamos dispostos a tomar todas as iniciativas que entendermos necessárias em função das respostas que tivermos e da disponibilidade deste Governo para atender às nossas reclamações”, prometeu Vítor Rodrigues.
Na ação da CNA desta sexta-feira, em Vila Real, foram também expostos problemas mais específicos do setor agrícola. Vítor Herdeiro, da Associação dos Viticultores e da Agricultura Familiar Douriense (Avadouriense), lembrou que “a cada ano que passa é um degrau que cada viticultor desce”.
Herdeiro justificou que “os preços baixam em vez de subirem” no negócio das uvas. Lembrou que na vindima de 2023, “as grandes empresas que compravam uvas deixaram de as querer”. Mais tarde, “prometeram pagar 400 euros por pipa (550 litros) de vinho de consumo e pagaram 300”. Quanto às uvas para vinho do Porto “prometeram pagar a 1025 euros a pipa e pagaram 900 euros”.
Ora, devido aos “elevados custos de produção os agricultores não têm hipóteses”. O dirigente da Avadouriense deu o exemplo dos produtos fitofármacos aplicados na vinha. Devido aos fenómenos meteorológicos cada vez mais frequentes, como chuvas intensas ou queda de granizo, “de três aplicações anuais, por exemplo, passou-se para 15”. Com os preços a subirem constantemente “os viticultores estão sempre a perder dinheiro” e “não se consegue tirar rendimento para, pelo menos, comer e beber”.