O confinamento geral entre março e maio contribuiu para a melhoria da qualidade do ar em Lisboa, segundo a associação ZERO. No entanto, tanto no Porto como em Braga, os valores de dióxido de azoto mantiveram-se acima do desejado.
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A análise dos dados provisórios de 2020 permite concluir, segundo a ZERO, que as seis estações de monitorização observadas na capital cumpriram todas, "pela primeira vez, os valores-limite" de 40 µg/m3 [microgramas por metro cúbico de ar], fixados para o dióxido de azoto, em vigor desde 2010.
Das estações analisadas em Lisboa, três estão em zonas de tráfego automóvel (Avenida da Liberdade, Entrecampos e Santa Cruz de Benfica) e três estão em locais de fundo urbano (Beato, Olivais e Restelo).
"O destaque recai para a Avenida da Liberdade, local que, habitualmente, apresenta as concentrações mais elevadas e acima do valor-limite anual de 40 µg/m3", lê-se no comunicado da ZERO.
Nesta artéria da cidade, verificou-se "uma redução de 28% da concentração média anual de dióxido de azoto, que passou de 54,6 µg/m3 em 2019 para 39,6 µg/m3 em 2020".
Entre 13 de março e 3 de maio - período do confinamento -, a Avenida da Liberdade conheceu uma descida de 57% desse poluente face à média de 2018-2019, registando assim "vários recordes associados a uma excelente qualidade do ar".
Eficiência das medições no Porto preocupa
"Note-se, no entanto, que nos últimos quatro meses, entre Setembro e Dezembro, os valores médios mensais, apesar de representarem uma redução global de 29%" em relação à média dos dois anos anteriores, "foram sempre superiores ao valor- limite anual", adverte a ZERO, ainda relativamente a Lisboa.
Desta forma, a associação conclui que "foi efetivamente o período de maior confinamento que permitiu o cumprimento da legislação, não estando assim os problemas estruturais de poluição pelo tráfego rodoviário resolvidos".
No Porto e em Braga, as duas estações monitorizadas "apresentaram valores médios anuais de dióxido de azoto superiores ao valor-limite".
No caso da estação da Invicta, colocada na Praça Francisco Sá Carneiro, a média anual foi de 66 µg/m3, "tendo-se igualmente
ultrapassado o número máximo de 18 horas durante o ano com concentrações superiores a 200 µg/m3", lê-se.
Já em Braga, a média anual registada na Avenida Frei Bartolomeu dos Mártires, foi de 42 µg/m3.
A ZERO informa também que vê "com bastante preocupação" a "eficiência" da recolha de dados pelas estações do Porto e de Braga. Isto porque, embora a legislação exija 90% de eficiência, na Invicta esse indicador ficou-se pelos 72% e, em Braga, não foi além dos 61%.
De modo a minimizar a poluição, a ZERO propõe que, no caso de Lisboa, a Câmara Municipal "aumente o nível de ambição das Zonas de Emissões Reduzidas e crie a Zona de Emissões Reduzidas (Avenida-Baixa-Chiado), que implica uma forte redução de tráfego e emissões".
A par dessa medida, a associação sublinha a importância de a autarquia manter a aposta na construção de ciclovias.
No Porto e em Braga, é "fundamental" que as autarquias optem por "reduzir e/ou regular o tráfego rodoviário" as zonas de maior poluição, nomeadamente "limitando a passagem de veículos mais antigos ou avaliando outras medidas que permitam reduzir as
concentrações".
A ZERO sublinha ainda a importância de medidas como o investimento nos transportes públicos, de modo a desincentivar o uso de transportes privados, ou a criação de mais espaços verdes.