A Organização Mundial de Saúde (OMS) adicionou o vício do jogo, o luto prolongado e o stress pós-traumático à lista de doenças mentais. A inclusão destas patologias vai permitir aos profissionais de saúde reconhecerem as caraterísticas distintivas de cada doença. Saiba quais são.
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Que patologias foram incluídas na lista de doenças mentais da OMS?
Foram três. A dependência do jogo (com ou sem recurso a dinheiro), o luto prolongado e o stress pós-traumático. Esta é a 11.ª revisão do manual da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a saúde. A nova versão já tinha sido adotada na Assembleia Mundial de Saúde, em 2019, e entrou em vigor a janeiro de 2022. Mas só agora foi publicada.
O vício do jogo é um distúrbio psiquiátrico?
Sim. A OMS reconhece que vício do jogo pode provocar conflitos conjugais, perda de dinheiro e impactos negativos na saúde.
A prevalência dos jogos face a outras atividades, comprometendo as rotinas, criando perturbações no sono e na alimentação, depressão, ansiedade, tédio, solidão, tentativas de suicídio, transtorno de personalidade ou ansiedade são sinais da doença. Nos adultos, o vício pode estar associado também a doenças crónicas e obesidade. Se estes sintomas prevalecerem por mais de seis meses a doença pode ser diagnosticada. A OMS nota que este comportamento não é explicado por outras doenças mentais ou devido a efeitos de substâncias ou medicamentos.
O stress pós-traumático deve ter um diagnóstico particular?
Sim, por isso é que foi introduzido no manual da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a saúde. A Organização Mundial de Saúde considera que a exposição a situações ameaçadoras, que potenciem o stress pós-traumático, implicam um diagnóstico e tratamento adequado. São exemplo catástrofes naturais, guerras, acidentes graves, violência sexual, terrorismo, agressões ou doenças que impliquem risco de vida, como é exemplo o ataque cardíaco. Na lista, a agência das Nações Unidas nomeia também a experiência de uma morte súbita, inesperada ou violenta de uma pessoa ou de um familiar.
Os primeiros sintomas ocorrem geralmente três meses depois do momento traumático, mas também se podem manifestar depois de vários anos. Quando diagnosticado, a recuperação completa do stress pós-traumático pode ser em três meses.
Este distúrbio também pode ser manifestado em crianças?
A doença pode manifestar-se em todas as idades, mas especialmente entre os mais novos. Segundo a OMS, nas crianças pode ser observada através de brincadeiras repetitivas, pesadelos ou impulsividade atípica. Em idades muito precoces, o stresse pós-traumático pode mesmo provocar a regressão do desenvolvimento da criança (falar, ir à casa de banho) ou choro obsessivo. Nos adolescentes, a resistência em ganhar autonomia e o uso de substâncias ilícitas ou o sexo desprotegido podem ser sinais de alerta.
Já na população adulta, a organização de saúde aponta que a gravidade dos sintomas pode diminuir ao longo da vida ou então podem passar a fazer parte da vida normal das pessoas, muitas vezes por estarem associados ao medo e à vergonha.
O luto prolongado não é uma depressão?
A OMS diz que o luto prolongando deve ser diferenciado de um estado depressivo porque os “sintomas estão especificamente relacionados com a perda de um ente querido”.
Assim, pode ser manifestado através do aumento do uso de tabaco, álcool e outras substâncias, bem como o crescimento de comportamentos suicidas. A doença é caracterizada pela saudade permanente pelo falecido. Manifesta-se com sentimentos de tristeza, culpa, dificuldade em aceitar a morte, ausência de humor ou dificuldades em envolver-se com outras pessoas.
Quando é que é possível fazer o diagnóstico da doença?
A doença pode ser diagnosticada se os sintomas se prolongarem por mais de seis meses. O luto prolongado pode também ser manifestado nas crianças. A OMS explica que um dos sintomas frequentes nestas idades é a expectativa do regresso da pessoa falecida ou o regresso a locais onde viu essa pessoa pela última vez. Podem também mostrar-se relativamente preocupadas com o bem-estar das pessoas mais próximas, por medo que a perda se repita. Os adolescentes podem desenvolver sentimentos de irritabilidade, raiva ou comportamentos de oposição e protesto.
E qual é o motivo para a OMS passar a classificar estas doenças?
Porque vai permitir “um apoio aos profissionais de saúde para reconhecerem melhor as características distintas destas doenças, que anteriormente podiam não diagnosticadas”.
De acordo com Dévora Kestel, Diretora do Departamento de Saúde Mental e Uso de Substâncias, da Organização Mundial de Saúde, “um diagnóstico preciso é muitas vezes o primeiro passo crítico para receber cuidados e tratamento adequados. Ao apoiar os médicos na identificação e diagnóstico de perturbações mentais, comportamentais e do neurodesenvolvimento, este novo manual de diagnóstico da CID-11 garantirá que mais pessoas tenham acesso aos cuidados e tratamento de qualidade de que necessitam”, disse.
E o que é a Classificação Internacional de Doenças da OMS?
Segundo a informação disponibilizada no site da OMS, é um manual que “fornece uma linguagem comum que permite aos profissionais de saúde compartilharem informações padronizadas em todo o mundo”. Já conta com 11 revisões e é a base para “identificar tendências e estatísticas de saúde em todo o mundo”. Tem 17 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte, estando sustentados por mais de 120 mil termos que permitem codificar mais de 1,6 milhões de situações clínicas. O manual é totalmente digital.