Conhecimento e acesso a cuidados de saúde permitem mais diagnósticos de Parkinson
Duas investigadoras do Instituto Universitário Egas Moniz explicaram ao JN o impacto da doença na qualidade de vida. O acesso a tratamentos ainda é difícil, mas consideram haver cada vez mais iniciativas disponibilizadas aos utentes.
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Em Portugal estima-se que cerca de 20 mil pessoas estejam diagnosticadas com Parkinson. A doença do foro neurológico afeta, principalmente, pessoas com idades acima dos 65 anos, mas tornou-se mais comum o diagnóstico a doentes com menos de 45 anos, disse ao JN Josefa Domingos, professora e investigadora na Egas Moniz School of Health & Science, em Almada.
Apesar de o número de casos estar a aumentar, a boa notícia é que esse aumento de diagnósticos se deve “ao maior conhecimento da doença e ao acesso a cuidados de saúde mais precocemente”, explicou a professora.
O lado negativo da doença, além do impacto dos sintomas, são as dificuldades financeiras no acesso a tratamentos, o que se deve “a restrições financeiras, falta de disponibilidade em determinadas regiões ou barreiras burocráticas, que podem “resultar em disparidades no cuidado entre diferentes grupos populacionais”.
Na quinta-feira passada, dia 11, celebrou-se o Dia Mundial do Parkinson, data que o Instituto Universitário Egas Moniz quis assinalar com alertas para as dificuldades que os doentes ultrapassam todos os dias, apostando, por isso, na informação.
Capacidade de realizar tarefas básicas afetada
A professora e investigadora Catarina Godinho, também do Egas Moniz, realçou como os sintomas da doença de Parkinson podem ter um impacto significativo “quando afetam a capacidade de realizar tarefas básicas do dia a dia”. Exemplifica com atividades como levantar da cama, sair de um carro, andar e até mesmo cuidar de si mesmas, trabalhar e socializar.
Estes obstáculos contribuem para um aumento da dependência, “bem como sobrecarga sobre os familiares e claro no sistema social”.
Além disso, leva a que as pessoas tenham de fazer ajustes significativos nas suas vidas, a “nível profissional, adaptação das suas casas para facilitar a mobilidade, a implementação de rotinas de exercício para manter a independência funcional, e a procura de apoio emocional e social para lidar com os desafios do dia a dia”.
Há mais iniciativas com “real impacto”
Para as adversidades que o Parkinson traz àqueles afetados pela doença, existem tratamentos e iniciativas focados em reduzir o desconforto dos utentes, bem como melhorar a sua qualidade de vida.
Catarina Godinho reconhece que “há felizmente perspetivas de que cada vez mais iniciativas e projetos que são desenvolvidos para melhorar o acesso a cuidados especializados com real impacto na qualidade de vida”, destacando os programas realizados em parceria com o Jumpyard Lisboa.
Esses programas permitem usufruir da utilização de “um espaço com trampolins e colchões para treino específico de equilíbrio e prevenção de quedas, proporcionado pelo ambiente seguro em relação a eventuais lesões”.
Realça também o treino de escalada vocacionado para pessoas com diagnóstico de Parkinson juvenil (antes dos 60 anos), a participação educacional de instituições de ensino superior, programas online e programas comunitários de exercício físico e desporto adaptado são fundamentais, uma vez que “é a única intervenção cientificamente comprovada com capacidade para travar a progressão desta doença”.
Os tratamentos variam de acordo com a gravidade dos sintomas e em casos de menor seriedade há medicamentos para controlar sintomas motores, fisioterapia e exercício físico, terapia da fala e intervenção nutricional. Em casos mais avançados consideram-se opções como a cirurgia DBS - Terapia de Estimulação Cerebral Profunda, e a DuoDopa, um fármaco sobre a forma de gel que se encontra armazenado numa cassete, que por sua vez é conectada a uma bomba infusora, que através de um tubo entra no estômago.
O que é Parkinson?
Parkinson é uma doença neurológica que afeta os movimentos, resultado da redução da dopamina. Alguns dos sintomas mais comuns são tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio e alterações na fala e na escrita.
“Os sintomas não motores não são tão facilmente observáveis, mas também são muito frequentes e incluem depressão, ansiedade, alterações do sono, dificuldades gastrointestinais como obstipação, aumento da frequência e urgência urinária e mais tarde alterações cognitivas”, alertou a professora Josefa Domingos.
É causada pela degeneração de células cerebrais, localizadas na substância negra (região do mesencéfalo). A doença é progressiva, mas existem tratamentos disponíveis.