Consultores imobiliários portugueses criam rede de alojamento para acolher ucranianos
Profissionais de mediação imobiliária de Portugal inteiro uniram esforços para criar uma base de dados nacional, com alojamentos gratuitos e arredamentos de baixo custo, para acolher famílias ucranianas fugidas da guerra. Em poucas horas, o grupo já garantiu mais de 300 camas e as ofertas não param de chegar por parte de autarquias, unidades hoteleiras, empresas, instituições e investidores privados.
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"Nós sabemos quem tem casas, onde estão e de quem são os prédios. Cada um de nós tem uma base de contactos muito grande. Estamos a trabalhar com todos - empresas, instituições e particulares - de modo a conseguir alojamento para as famílias ucranianas que vão chegar a Portugal", explica ao JN Joanna Koltan, consultora imobiliária na zona do Grande Porto.
Através de um grupo criado no Facebook esta sexta-feira, os profissionais do ramo começaram a trocar contactos e, em menos de 24 horas, asseguraram o apoio de várias autarquias, como Cartaxo, Fundão e Abrantes, de empresas de alojamento local do Porto, de uma unidade hoteleira da Póvoa de Varzim e de muitos particulares, que disponibilizaram quartos ou apartamentos inteiros para acolherem os refugiados. Da Madeira e do Alentejo surgiram também ofertas de emprego.
Trazer ucranianos para as fronteiras
A ideia partiu de um apelo de Rita Rocha, que trabalha há mais de uma década com a comunidade da Ucrânia e da Rússia nas áreas do desenvolvimento pessoal e consciência. "O movimento começou há três semanas, após os desenvolvimentos políticos e bélicos. Quando há três dias a situação se agravou, eu lancei um pedido à minha comunidade para ajudar as pessoas a saírem da Ucrânia e a trazê-las para as fronteiras", conta Rita Rocha, que já tem em casa refugiados que escaparam há uns dias.
Neta de ucranianos e com os pais a viver na Polónia, Joanna Koltan decidiu prontamente associar-se a Rita Rocha, tirando benefício dos contactos no ramo imobiliário. "Nas próximas semanas vão chegar milhares de ucranianos à Polónia, mas muitos seguirão para Portugal, onde há uma grande comunidade ucraniana. Acredito que muita gente conseguirá ajudar com bens essenciais e roupa, mas a casa é o mais difícil de conseguir e é o que estas pessoas vão precisar de imediato", aponta.
Por outro lado, Rita Rocha adianta que também pediu ajuda ao Governo e está a enviar os passaportes a que tem acesso para tentar facilitar a entrada dos refugiados em Portugal. Apesar de estarem a trabalhar num ritmo frenético, quase sem descanso, para garantir condições aos ucranianos na chegada ao país, o receio é que demasiadas famílias fiquem retidas e não consigam fugir.
"Estamos todos com muita força a trabalhar, mas eles estão a encontrar muitas dificuldades. Há pessoas que já não conseguem sair das cidades onde estão, estão fechados, outros que se atrasaram a sair e agora não têm gasolina, outros que chegam à fronteira, mas os homens são enviados para Kiev para lutar. As famílias estão a ser separadas, há mulheres a guiarem sozinhas com os filhos", relata Rita Rocha.