No espaço de uma década, alteraram-se os produtos mais vendidos em Portugal. Há aqueles que quase desapareceram e os que estão em vias de extinção. Agora tem de ser saudável, rápido, fresco e sustentável. São estes os requisitos das novas gerações, que também mudaram os hábitos dos mais velhos.
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Ana Paula Barbosa, diretora na Nielsen Portugal, nota que houve um crescimento significativo das vendas de bens de grande consumo, no terceiro trimestre, com maior peso de categorias de valor acrescentado. Os consumidores estão dispostos a "pagar mais por produtos ou serviços que permitam poupar tempo ou acrescentem conveniência", enquanto "a experiência de compra positiva, associada a atitudes e valores como a sustentabilidade ou a diversidade, por exemplo, influencia cada vez mais a decisão de compra, especialmente nas gerações mais jovens".
Laticínios
Consumo caiu 10% numa década
A balança alimentar portuguesa, do INE, contabilizou uma redução de 4% no consumo de produtos lácteos, pela primeira vez, entre 2008 e 2012, seguindo-se a quebra de 9,3% de todos os alimentos feitos com leite, entre 2012 e 2016. No total, o consumo de produtos lácteos diminuiu quase 10% na década. Segundo a Associação Nacional da Indústria dos Laticínios a culpa é das gerações mais jovens, onde "há cada vez mais pessoas que não consomem produtos de origem animal".
Telemóveis
Só um em nove não é "smart"
Em apenas 10 anos, os telemóveis sem funções smart perderam peso nas vendas de equipamento, passando de 91,8%, em 2009, para 13,8%, este ano. Segundo a consultora Gfk, os smartphones passaram a dominar as vendas a partir de 2013 e conquistaram mais de dois terços do mercado a partir de 2015. Hoje em dia, só os mais velhos ou mais nostálgicos mantêm os chamados telemóveis "de teclas", sem câmara integrada, sem jogos e sem ligação à Internet. Impensável para os mais novos.
Cartão de crédito
Sem conta bancária e com apps para tudo
Aproximam-se os dias em que os consumidores poderão deixar de ter conta bancária tradicional e passarão a movimentar o dinheiro que possuem ou obtido a crédito apenas através de apps no telemóvel e cartões virtuais. Dizem os especialistas em consumo norte-americanos que 65% dos millennials não possuem cartão de crédito - não têm rendimentos suficientes, não têm conta bancária e não têm interesse. Para o dia a dia, servem cartões como o N-26 e apps como a MB Way.
Refrigerantes
Açúcar a mais saúde a menos
A tendência está contabilizada nos EUA, onde as vendas de refrigerantes decrescem desde 2006. Marcas como a Pepsi e a Coca-Cola não são imunes, por isso adotaram fórmulas sem açúcar, sem cafeína, sem corantes e sem conservantes, para tentar melhorar a imagem das bebidas carregadas de açúcar e outros produtos nefastos para a saúde. Por cá, os dados não são divulgados, mas a tendência é obviamente semelhante, com os sumos naturais e bio a ganhar terreno nas prateleiras das lojas.
Pastilha elástica
Hábitos que mudam numa geração
A líder global de pastilhas elásticas perdeu mais de 30 milhões de euros em vendas de "pastilhas e doces", no ano passado, só no Velho Continente. A Mondelez, dona de marcas conhecidas como a Trident, está a vender, em média, menos dois milhões de euros por trimestre na Europa. Os mais jovens não compram pastilha elástica - referem os especialistas - porque não fumam como as gerações mais velhas e consideram que o hábito é prejudicial à saúde oral.
Halogéneo
Banidas para poupar e dar a vez às LED
As lâmpadas de halogéneo, que substituíram as velhas lâmpadas de filamento nas últimas décadas, acabaram por ser banidas na União Europeia em setembro deste ano. O fim das lâmpadas incandescentes tinha começado em 2009, mas agora também as de halogéneo foram remetidas ao esquecimento para dar a vez às mais eficientes lâmpadas de LED. As estimativas apontam para uma poupança anual superior a 90€ por cada casa com uma média de sete lâmpadas, contabilizando uma duração média de 15 anos para cada uma.
Sabonetes
Conveniência mudou hábitos de higiene
O declínio dos sabonetes não está contabilizado em Portugal, mas é visível nas prateleiras dos supermercados, onde escasseiam. Segundo estudos, quase metade dos consumidores norte-americanos acredita que as barras de sabonete estão cobertas de germes (60% se tiverem 18-24 anos, 35% entre os maiores de 65 anos), por isso as vendas, por lá, caem mais de 2%por ano, ao passo que a categoria de duche e banho continua a crescer. O gel líquido tomou conta das casas das famílias, para partilha mais higiénica.
Motociclos
Duas rodas associadas a perigo de vida
Quem está a comprar veículos de duas rodas em Portugal são os mais velhos, que adquirem motociclos de maior cilindrada, ao passo que as vendas de ciclomotores continuam a diminuir. No primeiro trimestre deste ano, venderam-se apenas 555 unidades (-21,9%), enquanto as vendas de motociclos continuaram a crescer a dois dígitos. Segundo analistas internacionais, as gerações mais novas consideram os veículos de duas rodas demasiado perigosos, preferem transportes públicos e modelos mais ecológicos de trotinetas.
Giletes
A era das barbas custa 5% das vendas anuais
Segundo a Procter & Gamble, multinacional responsável atual pelo fabrico e comercialização da famosa Gilette, o número de vezes que os homens se barbeiam por mês caiu de 3,7 para 3,2 numa década. Este ano, as vendas das lâminas de barbear representaram apenas 9% das vendas e 13% das receitas da multinacional norte-americana, tendo de facto caído 5% em valor e 1% em volume. Devido ao lançamento de um produto novo para peles sensíveis, mais caro, a receita das vendas acabou por conseguir ficar 7% acima do ano passado.