“Conversas de Café”: Elisa Ferreira apela à união e ao desassossego dos europeus
Ex-comissária europeia foi a primeira convidada da tertúlia “Conversas de Café”, onde abordou os desafios do Velho Continente.
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A economista e ex-comissária europeia para a Política de Coesão, Elisa Ferreira, apelou ontem à unidade e ao desassossego dos Estados-membros da União Europeia (UE) para enfrentarem as ameaças atuais e concretizarem projetos que catapultem o continente europeu para a dianteira da competitividade. Na primeira de 12 tertúlias intituladas “Conversas de Café”, ontem, no café Velasquez, Elisa Ferreira e Augusto Santos Silva debruçaram-se sobre o futuro da Europa.
A tertúlia do café portuense juntou os dois especialistas em política europeia para, entre o tilintar de chávenas e as conversas laterais de um café Velasquez a abarrotar, se discutirem os problemas que mais preocupam os gabinetes de Bruxelas. Os desafios são muitos e consensuais, da crise climática ao envelhecimento, passando pelos desequilíbrios internos e ameaças externas, mas os Estados-membros têm divergido nas soluções.
Elisa Ferreira assinalou que Portugal e a Europa devem “parar para pensar” na melhor forma de “dar o salto” para serem mais competitivos. Avisou ainda que o clima de aparente acalmia é inimigo da concretização, sendo preciso uma espécie de “desassossego permanente” para que as ações se façam.
No caso português, exemplificou, é preciso concluir os planos de mitigação da seca no Algarve e a ligação ferroviária à Europa. São dois projetos para resolver problemas antigos que teimam em não sair da gaveta, lamentou: “Vamos fazer, peça por peça, mas vamos fazer antes que o dinheiro acabe”.
O dinheiro a que se refere Elisa Ferreira é o dinheiro dos fundos de coesão. É por via destes fundos que Portugal assegura uma grande parte dos seus investimentos e cuja manutenção está sob ameaça, em face da necessidade de redirecionar o orçamento da UE para outras prioridades como a Defesa.
A este propósito, Augusto Santos Silva lembrou que há “um movimento de basculação do centro da UE para Leste”, onde as tensões políticas e militares são crescentes, mas duvidou da necessidade de reforçar o investimento em armas: “Não estou a dizer que sou contra, apenas que tem de ser discutida”.
Atentos, à mesa do café, estavam José Taveira dos Santos e Abel Gonçalves. São promotores e participantes de outra tertúlia, informal, que acontece todas as terças de tarde naquele espaço portuense. “Não tem agenda e tem muito de disparate”, confessa, a rir, Taveira dos Santos. Com mais de 100 tertúlias realizadas nos últimos dois anos sobre política, sociedade e muito futebol, lá perguntavam a brincar como é que o “Jornal de Notícias” e a Faculdade de Economia da Universidade do Porto, com apoio da Torre dos Clérigos, juntaram tanta gente no café Velasquez.