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Faz agora 25 anos que assino a página de "Religião", em tempos de "Actualidade Religiosa", que sucedeu a textos de opinião sobre assuntos religiosos, que assino há 40 anos, primeiro em "O Comércio do Porto" e, depois de 1977, no "Jornal de Notícias".
Talvez nunca tenha falado, como hoje, tão abertamente da fase terminal da vida e da própria morte. Corro o risco de abordar uma aparente não-notícia, quando, afinal, o que todos temos de mais certo é que algum dia morreremos. Confesso que não tenho pressa, mas pensar na morte pode enaltecer a vida.
Quando um doente se aproxima dos últimos dias, a esperança na cura não deve dar lugar à angústia perante a iminência do fim, mas a uma proximidade que, através da escuta, dos gestos e dos afectos, contribua para suscitar conforto e confiança. Esta foi uma das principais convicções resultantes do simpósio "Con(viver) com a morte", que decorreu em 18 e 19 do corrente, em Coimbra.
Foram mais de 800 os participantes, habituados a contactar "com a morte todos os dias e a todas as horas", mas, por isso mesmo, a ver que "as pessoas não estão preparadas para lidar com esta realidade", como dizia o padre José António Pais, coordenador dos capelães dos hospitais da diocese de Coimbra. Defende que a sua tarefa é "saber fazer-se igual em tudo, no sofrimento mas também na alegria". Por isso, acrescenta: "Já me aconteceu muitas vezes sair do quarto de alguém que está no fim da vida para ir chorar, encontrar um enfermeiro ou enfermeira e ficarmos os dois a chorar no ombro um do outro". Garante que "a dimensão espiritual está sempre presente aquando da iminência da morte, mesmo para os ateus".
O prof. Daniel Serrão defendeu que os profissionais de saúde, assistentes sociais, psicólogos e voluntários têm de começar a ser preparados para o acompanhamento "que as pessoas merecem e a que têm direito". Classificou de "má prática clínica" as tentativas de tratar uma doença que não tem saída possível: "Tenho sempre recomendado que, com cuidado, prudência e sabedoria, se dêem os elementos necessários para que a própria pessoa reconheça que já não vai ter cura".
A capelania dos Hospitais Universitários de Coimbra conta com dois padres, uma consagrada e oito pastores evangélicos, que procuram atender as necessidades de 1500 doentes e 5000 profissionais de saúde.