A coordenadora da equipa da Pastoral do Ensino Superior da Diocese de Beja, Sameiro Pedro, não se identifica com as posições assumidas pelo bispo de Beja e demitiu-se. Depois de, a 7 de março, D. João Marcos ter defendido o perdão dos padres suspeitos de abusos sexuais de menores que estejam arrependidos, Sameiro Pedro (que é também representante no Serviço Nacional da Pastoral do Ensino Superior) alega "falta de ânimo" para continuar a representar a diocese.
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"Não consigo identificar-me com um qualquer exercício do poder clerical na Igreja, sobretudo em dissonância com o Magistério do Santo Padre", defende Sameiro Pedro, em comunicado publicado na página da Pastoral do Ensino Superior de Beja, certa de que "não há lugar para o silêncio ea passividade".
A professora adjunta do Instituto Politécnico de Beja sublinha que a sua "consciência cristã católica" não lhe permite "continuar a representar" o bispo de Beja, "mormente quando todos os acontecimentos convocam os leigos a assumirem a sua condição batismal e interveniente na Igreja e em sociedade".
Sameiro Pedro deixa, também, as funções que exercia na equipa nomeada para preparar e acompanhar a fase diocesana do Sínodo dos Bispos 2021-2024.
Triste e indignada
Assumindo-se como "cristã católica e catequista de adultos, Sameiro Pedro, que foi nomeada por um período de três anos a 4 de outubro de 2021, deixa claro que "as mais recentes declarações públicas" do bispo impelem-na "a agir e, ao mesmo tempo", impedem-na "de continuar a exercer qualquer função que resulte de uma nomeação" feita por D. João Marcos.
"Os acontecimentos do último mês e as ações, e mais ainda as omissões deliberadas, em que se precipitaram estruturas de poder eclesiástico em Portugal têm-me deixado triste e indignada", lê-se, ainda, no comunicado.
Recorde-se que só na passada quarta-feira é que a Diocese de Beja emitiu uma nota de Imprensa onde assumiu a existência de nove casos de abuso. A diocese justificou que recebeu, no dia 3, a lista da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, "onde sinalizava a existência de cinco casos, quatro sacerdotes e um leigo. Os denunciados já morreram", acrescentando que os casos que envolvem terão ocorrido entre 1963 e 1980.
Acresce que, dos arquivos da diocese, constam ainda quatro casos, denunciados entre os anos 2001 e 2020. Todos mereceram o devido encaminhamento, tanto civil como canónico", justificando o bispo de Beja que "os referidos processos tiveram distintos desfechos, resultando em arquivamento, absolvição e um aguarda ainda sentença judicial".