O setor social reúne-se com a Direção-Geral da Saúde e o Ministério da Solidariedade para definir medidas de prevenção face à propagação de Covid-19.
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São as populações de risco do novo coronavírus os idosos e os doentes, sobretudo os que apresentam comorbilidades (duas ou mais doenças). Atentos, hospitais e lares estão já a restringir as visitas aos seus utentes. Limitando-as tanto em número, como em duração.
Esta sexta-feira, várias organizações do terceiro setor participam numa reunião com a Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Instituto da Segurança Social no Ministério da Solidariedade. O encontro visa definir diretrizes para o setor, com as visitas no topo das preocupações.
Não havendo orientações precisas das autoridades quanto ao regime de visitas, cada instituição está a adotar planos de contingência, com regras diferentes para os visitantes. Questionada, a DGS fez saber que "cada entidade desenvolve o seu plano de contingência de acordo com as suas especificidades, devendo adotar as recomendações da DGS".
Quanto às limitações de visitas, diz a DGS que a "adoção de medidas será sempre feita em função da avaliação de risco". Já a tutela informou estarem a "ser tomadas medidas a diferentes níveis para acautelar as necessidades do setor social e solidário", incluindo "ações de formação em cascata".
Humberto Carneiro, membro do Conselho de Gestão do Grupo Misericórdias Saúde, revela que há "misericórdias a fazerem como o IPO do Porto, permitindo só um visitante por dia". Na Póvoa de Lanhoso, da qual é provedor, "as visitas só estão abertas a familiares diretos". Da reunião de hoje espera "orientações universais para lidar com as visitas".
No Porto, a Santa Casa tem em vigor um plano de contingência para todas as unidades e uma comissão permanente de acompanhamento com total autonomia. Quanto às residências que acolhem 160 idosos, o provedor António Tavares diz estarem a "tentar controlar ao máximo as visitas, espaçando-as no tempo e limitando-as a duas pessoas por familiar".
Na Santa Casa de Braga, as visitas estão a ser reorganizadas, garantindo o provedor Bernardo Reis que, "em função da evolução no Norte, podem ser adotadas medidas mais restritivas". Em Bragança, segundo fonte do gabinete de comunicação da misericórdia, os visitantes têm que responder a um questionário sobre as zonas onde estiveram, na medida em que muitos são emigrantes que vão visitar os pais. Com 200 utentes em três lares, a Santa Casa está também a "limitar as entradas". Com 497 utentes residentes, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa não adotou quaisquer restrições.
Hospitais limitam a um/dois
No Hospital de S. João, no Porto, onde estão cinco infetados por Covid, as visitas estão limitadas a "uma pessoa em simultâneo" e, no máximo, a "duas por dia a cada doente". No Santo António, onde está um outro infetado, só é permitido um visitante na enfermaria e no departamento de infância apenas os pais. O Hospital da Covilhã só permite um visita por em cada período (tarde ou noite) e reduziu o tempo de visita. O mesmo vai ser feito, em breve, pelo hospital de Aveiro. O Santa Maria, em Lisboa, não avança, para já, limitações.
Presidente substituído pediu reforço do SNS24
O até agora presidente dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), entidade que gere o SNS24, alertou, na segunda-feira, para a necessidade de reforçar a linha de atendimento que estava a ultrapassar a capacidade máxima de dez mil chamadas por dia. A linha tem ultrapassado as 13 mil chamadas diárias e milhares ficam por atender. "Por inércia da tutela", diz Henrique Martins ao JN.
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Na quarta-feira à noite, dois dias depois de o primeiro-ministro ter visitado o centro de contacto SNS24, em Lisboa, o presidente dos SPMS foi informado pessoalmente pela secretária de Estado Adjunta da Saúde, Jamila Madeira, de que no dia seguinte deixaria o cargo. "Ninguém me explicou porquê", assegura.
Num comunicado divulgado ontem, depois de o Público ter noticiado que 25% das chamadas ficaram por atender nos últimos dias, os SPMS informam que foi feito um reforço da linha, que conta atualmente com mil enfermeiros a trabalhar por escalas, entre 130 a 150 em simultâneo. Ao que o JN apurou, o reforço é de cerca de 100 enfermeiros e foi feito antes de ser conhecido o primeiro caso de coronavírus no país, sendo insuficiente para responder aos atuais picos de procura.
O Ministério da Saúde não respondeu às perguntas sobre o pedido de reforço do SNS24. Sobre a não recondução de Henrique Martins, referiu que o mandato terminou a 31 de dezembro e que o processo de substituição está em curso desde então. Os novos nomes foram submetidos à Cresap em 30 de janeiro, sublinhou.
Para Henrique Martins, a substituição deve-se ao "desalinhamento político e orçamental" com a ministra e o Governo. No início do ano fez duras críticas ao corte do orçamento dos SPMS, "menos 18 milhões de euros face a 2018". "É esta a aposta no digital?", pergunta.
Vai ser substituído por Luís Goes Pinheiro, ex-secretário de Estado da Modernização Administrativa. Entram ainda Sandra Cavaca, secretária-geral do Ministério da Saúde, e Domingos Pereira, do Hospital de Gaia.