Procura subiu de 20 mil para meio milhão por semana. Stock reposto está sempre a esgotar, sobretudo em Lisboa, Porto e Braga. Ministra espera recorde de infeções em breve.
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O primeiro-ministro aconselhou os portugueses a fazerem pelo menos um teste antes da consoada, mas a recomendação será difícil de cumprir, sobretudo nas grandes cidades. A venda de autotestes nos supermercados portugueses subiu de 20 mil para meio milhão por semana, o que leva a ruturas de "stock" constantes. Há várias cadeias de supermercados que estão a limitar a venda a 10 ou 15 unidades por cliente.
"Há um mês, com as declarações do primeiro-ministro e com a necessidade de haver testagem para entrar em sítios, estávamos a vender 16 a 20 mil testes por semana e, de repente, passamos a vender mais de meio milhão", revela Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED).
Vários consumidores começaram a comprar dezenas de autotestes e registou-se uma subida exponencial da procura "a que nem os próprios laboratórios estavam preparados para responder", sublinha Gonçalo Lobo Xavier, que confirma que há cadeias de supermercados "a limitar o número de testes por consumidor".
O JN sabe que a "Mercadona" limitou o número máximo de autotestes que cada pessoa pode comprar a dez unidades, ao passo que o Auchan e o Lidl limitaram a 15. Fonte do Lidl confirma "um aumento da procura de autotestes" e diz que "é expectável que possa ainda intensificar-se". Já fonte das lojas Continente também confirma maior procura, sobretudo desde o anúncio de novas medidas em novembro: "Temos a expectativa de manter a capacidade de resposta. Estamos em contacto com diversos fornecedores".
Nenhuma cadeia assume falta de stock pois, quando isso acontece, é uma questão de poucos dias ou horas até que seja reposto, uma vez que a distribuição está a funcionar bem. No entanto, logo que chegam também se esgotam. "Sobretudo em Lisboa, Porto e Braga, que são cidades com muita pressão e muita noite, temos muitas lojas sem stock, mas continuam a receber, porque a distribuição em si não parou. Não vêm é à cadência que nós gostaríamos e que a procura determina", explica o diretor-geral da APED. Até ao dia 3 de janeiro, Portugal vai receber dois milhões de autotestes, oriundos de 13 fornecedores. Inicialmente, os autotestes não serviam para entrar em hospitais, lares, eventos e outros espaços, apenas os antigénio ou PCR. No entanto, a DGS passou a permitir que servissem, desde que supervisionados por profissionais. Isto fez com que várias farmácias tivessem recorrido aos supermercados para os comprarem, o que também agravou a situação.
Espanhóis compram cá
Nos territórios de fronteira, há cada vez mais espanhóis a procurar autotestes em farmácias, lojas e supermercados portugueses, onde o preço é quatro vezes inferior ao espanhol. Ontem, às 15 horas, a Farmácia Cerqueira, de Vila Nova de Cerveira, já tinha vendido cerca de mil testes. "Ainda há pouco me ligou uma senhora de Vigo que me pediu para lhe reservar 20, porque vinha a caminho", relatou a responsável, Anabela Lima. De Melgaço a Caminha, há farmácias com testes esgotados.
Em Portugal, segundo o Infarmed, há 1089 farmácias e 632 laboratórios que estão a fazer os testes rápidos de antigénio grátis ao abrigo do acordo com o Estado.
Recorde de casos em breve
O boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS) contabilizou, ontem, 8937 infetados, metade dos quais na região de Lisboa e Vale do Tejo. A barreira dos nove mil casos num só dia não era ultrapassada desde fevereiro e, segundo a ministra da Saúde, estima-se que o país vai bater "um recorde de número de casos nos próximos dias". Marta Temido destacou a importância do teste e da vacinação - nos mais de 65 anos, admitiu que é preciso vacinar mais - e lembrou que hoje irá funcionar casa aberta para os maiores de 63 anos ou com 40 ou mais que receberam a Janssen.
Números
Taxa de positividade dos testes feitos
A taxa de positividade dos testes feitos à covid foi, na última semana, de 3,1%. A tendência decrescente mantém-se, com o número de testes a subir. Em janeiro deste ano, 20% dos testes davam positivo.
Milhões de testes realizados
O Instituto Ricardo Jorge informou que já foram feitos 24 milhões de testes desde o início da pandemia. Destes, 16 milhões foram PCR. Só este mês foram realizados 2,7 milhões.
Ministra admite contradições nas medidas
A ministra da Saúde admitiu ontem, à RTP, que há contradições entre as medidas anunciadas, como a realização de festas (ler ao lado), mas desvalorizou-as: "Aquilo que neste momento temos que fazer é procurar ao máximo evitar contactos, mais do que nos focarmos nas contradições entre as medidas, que são muito fáceis de encontrar". Marta Temido anunciou que vai contratar 400 camas ao setor privado e social para enfrentar a variante ómicron que colocou Portugal "num puzzle complexo". Prevê ainda que o autoagendamento da dose de reforço acima dos 50 anos aconteça já em janeiro.
*Com Ana Peixoto Fernandes