O secretário-geral do PS acusou o primeiro-ministro de minar a confiança nas instituições democráticas com as suas explicações sobre o aumento do défice em 2014 e secundarizou a posição de Bruxelas, que afasta medidas adicionais.
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António Costa falava aos jornalistas no final de uma visita à fábrica da Maçarico, na Praia de Mira, em que aproveitou para retomar o tema de o Instituto Nacional de Estatística (INE) ter apurado um aumento do défice para 7,2% em 2014 na sequência da ausência de concretização da operação de venda do Novo Banco.
Nas declarações aos jornalistas, o líder socialista optou sempre por desvalorizar a posição da Comissão Europeia de que a subida do défice em Portugal em 2014 não requererá medidas adicionais.
Após as justificações apresentadas pelo presidente do PSD sobre o aumento do défice em 2014, o secretário-geral do PS contra-atacou, considerando que, "tanto ou mais grave do que os dados do INE sobre o impacto da resolução do Novo Banco no défice em 2014, foi a resposta que o primeiro-ministro procurou dar".
"É essencial restabelecer a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas e há limites para tudo. Há limites para o descaramento com que se quer disfarçar o que é indisfarçável, transformando-se o fracasso de uma venda [do Novo Banco] que repetidamente foi dita como urgente agora num enorme sucesso de um adiamento", disse.
Costa lamentou que o primeiro-ministro tente passar a ideia de que quanto mais tarde for a venda do Novo Banco melhor será para o país, já que do Estado, tratando-se de um empréstimo, receberá mais juros.
"É altura de o primeiro-ministro ter decoro na forma como quer relacionar-se com os portugueses. Não pode ter esta ideia de que tudo lhe é permitido, que pode estar sempre a enganar toda a gente ao mesmo tempo e, por isso, é altura de dizer basta e de que chegou o limite para a falta de decoro", insistiu, antes de acusar o primeiro-ministro de procurar "esconder dos portugueses que o dinheiro que emprestou à banca" no âmbito da resolução do Novo Banco "é dinheiro que o Governo pediu emprestado para, por sua vez, emprestar à banca".
"Esse dinheiro paga juros, não é uma aplicação financeira rentável para o país", advogou.
António Costa foi depois confrontado com a posição da Comissão Europeia que não considera necessárias medidas adicionais para compensar o aumento do défice registado em 2014, entendendo que o impacto nas contas nacionais da não concretização da venda do Novo Banco será "pontual".
Para o secretário-geral do PS, o comunicado da Comissão Europeia só demonstra "que há muitas coisas que o primeiro-ministro tem de explicar".
"Há ou não consequências na necessidade de medidas extraordinárias? Há ou não consequências relativamente ao défice de 2015 e há ou não consequências na trajetória da dívida pública?", questionou.
Depois das questões que considera estarem em aberto e requerem explicações do executivo, Costa tirou desde já uma conclusão: "Há uma coisa que já sabemos em relação às contas que o Governo apresentou em Bruxelas no Programa de Estabilidade - e que são por sua vez a base do programa eleitoral do PSD/CDS. Essas já sabemos que ruíram como um castelo de cartas, já que assentavam numa redução significativa do serviço da dívida, metade da qual resultaria da alienação este ano da venda do Novo Banco".
Porém, de acordo com líder socialista, neste caso, "o mais grave foi a forma como o primeiro-ministro reagiu", porque "a credibilidade é fundamental na vida política".
"Mais importante do que a consequência financeira, é a questão da credibilidade e do relacionamento do primeiro-ministro com os portugueses", acrescentou.