O líder do PSD afirmou, esta sexta-feira, que o primeiro-ministro "já teve tempo mais do que suficiente" para responder às questões do PSD sobre se interferiu ou não no Banco de Portugal (BdP), como acusa o ex-governador Carlos Costa. À saída de uma audiência com o presidente da República, em Belém, Luís Montenegro defendeu também que os atrasos no pagamento às corporações de bombeiros são uma "imoralidade", criticando ainda o PS por se limitar a "governar à vista".
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"Faz hoje um mês que enviámos as 12 perguntas", afirmou Montenegro, após uma reunião que disse ter sido "combinada" entre ele próprio e Marcelo Rebelo de Sousa. "Continuamos ainda sem resposta" da parte do primeiro-ministro, confirmou.
Para o líder do PSD, é "estranho" que António Costa precise de "tanto tempo para responder" às questões, depois de ter "desvalorizado tanto" as acusações de interferência na resolução do Banif e a favor da empresária Isabel dos Santos. Ainda assim, o social-democrata disse estar convicto de que as respostas escritas chegarão mesmo.
"Têm de chegar. Nem me quer passar pela cabeça que ele [Costa] não tenha a hombridade institucional de cumprir um dever que a lei e a Constituição lhe impõem, que é o de esclarecer o Parlamento sobre as questões que lhe são colocadas", vincou Montenegro. Na opinião do presidente laranja, a ausência de respostas de Costa seria "um desvio completo ao normal funcionamento institucional" entre Executivo e Assembleia da República.
No entanto, questionado sobre até quando está disponível a esperar antes de dar o passo seguinte - que o PSD já admitiu poder ser uma comissão parlamentar de inquérito -, o líder da Oposição voltou a remeter qualquer decisão para o "conteúdo substantivo" das respostas de António Costa.
Atrasos no pagamento a bombeiros são uma "imoralidade"
Montenegro também criticou os atrasos nos pagamentos aos bombeiros, num dia em que os deputados do PSD entregaram um requerimento, dirigido ao ministério da Saúde, no sentido de apurar o montante exacto das dívidas.
"Considero uma imoralidade que o Governo não pague - nem através do ministério da Saúde - às corporações de bombeiros o transporte dos doentes não urgentes, nem que tão-pouco pague as despesas extraordinárias que os bombeiros tiveram na época de incêndios do Verão", afirmou o social-democrata.
No entender de Montenegro, esta é mais uma prova de que o PS lidera o país "sempre com uma perspetiva de governação à vista". Ao olhar "apenas para o dia seguinte", o Executivo revela uma "falta de capacidade reformadora e reformista" que faz com que "as questões estruturantes e estratégicas do país não avancem", vincou, exemplificando com a realidade atual das áreas da saúde, educação, cultura e desporto.
"Pressa inusitada" na eutanásia e PRR com execução "baixíssima"
Montenegro revelou ter ido a Belém "apresentar cumprimentos como líder da Oposição", prática que reconheceu não ser "muito habitual" em Portugal mas que espera instituir, à semelhança do que já ocorre "em vários países europeus". Também quis sublinhar, perante um presidente com quem tem tido uma relação "impecável", a "incompetência" do Governo em transformar o país.
Nas "impressões" que trocou com Marcelo Rebelo de Sousa, Montenegro fez um balanço de 2022. Defendeu ter-se tratado de um ano "muito difícil" e no qual se viu, "no dia-a-dia das pessoas, o efeito da falta de capacidade reformadora e reformista do Governo". Segundo o líder laranja, Costa "não aproveitou" o período pré-pandemia e pré-guerra da Ucrânia "para preparar o país para momentos difíceis como os que atravessamos".
Montenegro também levou a Belém a questão da eutanásia, embora apenas para "reiterar" que defende a realização de um referendo. De resto, fez notar a Marcelo o "apressar inusitado" com que o PS quis discutir e aprovar, antes do final do ano, esse e outros diplomas.
O líder do PSD sublinhou ainda que a taxa de execução do PRR continua "baixíssima". Garantiu que, nas unidades de saúde e universidades por onde tem passado no seu périplo pelo país, "está tudo à espera do dinheiro", sustentando que o atraso demonstra que o Governo não consegue fazer os fundos chegar "à realidade prática do dia-a-dia das empresas e, sobretudo, das instituições".