O primeiro-ministro demissionário admitiu que houve uma "descida muito significativa" do PS, mas avisou que os "resultados finais são menos claros do que aquilo que eram as projeções iniciais". Na AD, não houve uma "grande subida". Chega cresce bastante: falta saber se é voto "de protesto" ou há mudança de fundo.
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Chegado ao Hotel Altis, em Lisboa, local ao qual tinha dito que só iria em caso de derrota, o ainda primeiro-ministro, António Costa, salientou que "os resultados quase finais são menos claros do que aquilo que eram as previsões iniciais". "Provavelmente, não será hoje que vamos ter os resultados finais", sublinhou, acrescentando que, no limite, será preciso aguardar pelos "próximos dias ou semanas", até que sejam apurados os resultados da emigração.
O ex-secretário-geral do PS admitiu que o seu partido "teve obviamente uma descida muito significativa na sua votação" e que, por outro lado, "a soma dos votos do PSD de Rui Rio com os do CDS equivale mais ou menos aos votos da AD". "Não verificámos uma grande subida."
Costa também reconheceu que o Chega obtém uma "subida fortíssima". A esse respeito, afirmou que vai ser necessário analisar em que medida esse resultado é "estrutural" ou representa um "protesto", nomeadamente após dois anos de uma subida da inflação à qual, admitiu, o Governo não conseguiu dar resposta "suficiente".
O facto de as eleições terem ocorrido “numa situação de sobressalto de dúvidas judiciais por esclarecer” também contribuiu, no entender de Costa, para a criação de “um caldo de cultura” propício ao crescimento do “populismo”. O ainda governante vincou que será necessário haver “serenidade” para dissecar o resultado do partido de André Ventura.
Questionado, António Costa nunca quis responder se defende que o PS deve ou não viabilizar um Governo e o primeiro Orçamento do Estado da AD. Fugindo a potenciais polémicas, respondeu que é Pedro Nuno Santos quem tem “legitimidade” para tomar essas decisões. Admitiu que o resultado eleitoral do PS ficou “muito aquém” do de há dois anos, mas acrescentou que também a vantagem da AD ficou “muito aquém” da “vitória sólida” que as sondagens previam.
A fechar, Costa deixou uma farpa ao presidente da República, a propósito da notícia do Expresso, publicada no final da campanha, que dava conta de que uma “fonte de Belém” dizia que o presidente não daria posse a um Governo que incluísse o Chega. O primeiro-ministro cessante respondeu que, em oito anos, nunca comentou “nem as palavras, nem os silêncios, nem os passeios nem o que é dito por fontes de Belém, que o próprio [Marcelo Rebelo de Sousa] já admitiu que é ele”.