O primeiro-ministro reconheceu, esta segunda-feira, que é preciso "melhorar a gestão" do SNS, de modo a garantir que todas as regiões têm acesso a cuidados de saúde de qualidade. Na apresentação da direção executiva do SNS, em Lisboa, António Costa e Fernando Araújo - líder da nova entidade - concordaram quanto ao principal objetivo a atingir: gerar "confiança" nos utentes, "independentemente de onde residam". O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, admitiu que os tempos de espera nas urgências são um "problema crónico".
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Costa tem apontado o Hospital de São João, até aqui presidido por Fernando Araújo, como um bom exemplo de boa gestão. Esta segunda-feira, embora não tenha mencionado a instituição portuense, vincou a importância de que passe a existir uma maior "equidade regional" no que toca à qualidade dos cuidados de saúde.
"Uma condição fundamental para a confiança do cidadão, do utente, é existir a confiança de que, independentemente do local em que reside, possui acesso equitativo ao SNS", afirmou o chefe do Governo, no Infarmed.
"As boas práticas identificadas e desenvolvidas numa região ou num estabelecimento devem ser generalizadas a todas as instituições ", acrescentou, frisando que se deve prestar atenção a "cada árvore" que existe na "floresta" do SNS.
Funcionar em rede
Costa descreveu o SNS como "o pilar central do Estado Social" e "o melhor fruto" da democracia. Considerou que a pandemia "aumentou muito o padrão de exigência" do país quanto à qualidade da saúde, já que passou a reivindicar-se "a excecionalidade como normalidade". Mas essa exigência é "o maior ganho civilizacional que temos", frisou.
O primeiro-ministro admitiu que o trabalho da direção do SNS será "duro e exigente", desde logo por incluir a tarefa de aprofundar a autonomia das instituições hospitalares. No entanto, alertou que essa autonomia deve ser acompanhada da noção de que o SNS "tem de funcionar em rede, de modo integrado".
O ministro da Saúde defendeu que o SNS tem de se "requalificar" para responder a novos problemas, como o envelhecimento ou o peso das doenças crónicas. Para isso terá de existir uma "melhor articulação" entre as várias redes do sistema", referiu.
Urgências são "problema crónico", reconhece Pizarro
No final da sessão, Manuel Pizarro foi questionado sobre um relatório da Entidade Reguladora da Saúde, ontem divulgado, que aponta a subida dos tempos de espera por consultas e cirurgias no primeiro semestre face a 2021. O ministro considerou-o um "problema crónico" que só será mitigado com recurso a "medidas integradas", embora tenha lembrado que, em parte do ano, ainda se verificaram constrangimentos devido à pandemia.
Fernando Araújo frisou que garantir a "confiança" dos utentes é um dos desafios da direção executiva. Outros são a qualificação das lideranças, a autonomia das instituições, a desburocratização, a "valorização" dos cerca de 150 mil profissionais ou a transição digital.
Marcelo visita hospitais
O presidente da República inicia, entre hoje e amanhã, uma ronda por vários hospitais, para "contactar com a realidade da saúde".Pizarro desdramatizou e revelou que acompanhará Marcelo, considerando "positivo" que este queira "dar voz" aos portugueses.
Montenegro acusa Governo
O líder do PSD, Luís Montenegro, afirmou que o ministro da Saúde e a direção do SNS estão "condenados desde o primeiro dia". "Quando o primeiro-ministro disse, depois de substituir o titular da saúde, que ia mudar o ministro mas a política continuaria a mesma, condenou o ministro e os seus colaboradores ao insucesso", referiu.
Poder não passa de Lisboa para o Porto
O diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, admitiu que há "um problema de governança na saúde", mas alertou: "O objetivo não é mudar a sede do poder de Lisboa para o Porto, porque isso não traria nenhuma vantagem ao SNS". Araújo quer que a maior autonomia dê aos hospitais "uma capacidade diferente de decidir".
Autarcas vão reunir com ministro
Os presidentes das câmaras de Setúbal, Palmela e Sesimbra vão reunir com Manuel Pizarro no dia 20. Na ocasião, irão defender o "reforço dos quadros de pessoal" do Centro Hospitalar de Setúbal.
Pizarro lança farpa à Direita
O ministro da Saúde deixou uma crítica à Direita, e nomeadamente ao PSD. "O SNS mudou tudo nestes 50 anos de democracia. E até mudou a opinião dos que estavam contra o SNS e votaram contra ele e que, agora, batem no peito a dizer que são defensores do SNS desde sempre", afirmou Pizarro.