Monkeypox já infetou centenas de pessoas em Portugal. Gripe das aves sem registo de transmissão a humanos. Não há casos recentes de zika no nosso país.
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Nos últimos meses, muitos vírus têm sido detetados em Portugal, com algumas das situações a incluírem agentes propagadores, como mosquitos e aves, sem que a transmissão da doença a humanos tenha ocorrido.
Pandemia
Covid-19: média de 12 óbitos por dia
Mais de quatro anos após o início da pandemia (os primeiros casos em Portugal registaram-se no dia 2 de março de 2020), a covid continua ativa. Em julho, a média era de 400 novos casos por dia e 12 mortes. Depois de um período de aparente acalmia, como razões para este aumento de casos, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes aponta a evolução do vírus SARS-Cov-2, com o surgimento de novas linhagens com capacidade de fugir aos anticorpos. Um número que quase triplicou desde finais de maio e que, de acordo com os números avançados pela DGS, continua elevado.
No dia 21 de agosto, por exemplo, foram registados 100 novos casos e cinco mortes. Na quinta-feira, surgiram 75 casos positivos e quatro mortes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou para o aumento de casos de covid-19 no Mundo, considerando “pouco provável” que diminuam a curto prazo, e para o risco de aparecimento de uma variante mais severa. “A covid-19 continua muito presente”, afirmou numa conferência de imprensa a diretora na OMS para a Prevenção de Epidemias e Pandemias, Maria Van Kerkhove, assinalando que a doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 circula em todos os países.
Sem transmissão
Gripe das aves força restrições sanitárias
Até ao dia 15 setembro, 26 freguesias de Viana do Castelo, Esposende e Barcelos estão com restrições à criação, venda e consumo de aves. A doença foi encontrada numa exploração caseira de animais de capoeira em Chafé, Viana do Castelo. Por causa disso, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) determinou uma “restrição sanitária” que impede a circulação de carne de aves de capoeira e ovos para consumo humano. Entre as limitações impostas nas zonas colocadas sob proteção ou vigilância encontra-se a circulação de ovos, aves, miudezas ou outros produtos à base da carne de “aves detidas e selvagens”.
Em Portugal, não há qualquer registo de transmissão de gripe aviária a humanos mas a OMS registou, entre o início de 2023 e o dia 1 de abril de 2024, 889 casos humanos de gripe aviária em 23 países, incluindo 463 mortes, o que representa uma taxa de letalidade de 52%.
Calor
61 casos de dengue em seis meses
Desde o início do ano, até ao dia 9 de junho, a Direção-Geral de Saúde registou 61 casos de dengue, todos importados. A DGS refere que não há mortes associadas à doença, já que o único caso de óbito conhecido em território nacional foi diagnosticado fora do país. A dengue é uma doença provocada por um vírus que se hospeda no organismo humano através da picada de um mosquito. O calor, associado a águas paradas, gera ambientes propícios aos mosquitos. No Brasil, desde o início do ano, já morreram milhares de pessoas com dengue.
Contágio
Desde 2015 não há vírus do Nilo
É um dos vírus mais conhecidos mas, de acordo com a DGS, houve apenas um caso confirmado, num humano, do vírus do Nilo Ocidental em Portugal. A vigilância da doença, conhecida como febre do Nilo, começou em 2015 e desde essa data não há nenhum caso registado do vírus em seres humanos.
Em 2004, a doença ficou conhecida depois de dois turistas irlandeses no Algarve terem sido considerados casos suspeitos de febre do Nilo. Contudo, nada foi confirmado e os turistas regressaram ao seu país. No território nacional, os casos têm sido sobretudo detetados em animais, nomeadamente em cavalos. A Direção-Geral de Alimentação e Veterinária aponta que, desde 2021 e até ao ano passado, pelo menos 25 infeções foram detetadas em equídeos. Este ano, ainda nenhum caso foi registado.
Varíola dos macacos
Mpox já conta 244 episódios num ano
Entre 1 de junho de 2023 e 31 de julho de 2024, foram registados 244 casos e, de acordo com a Direção-Geral de Saúde, nenhum dos casos de mpox reportados em Portugal é da variante mais perigosa. Entre maio e julho de 2024, foram reportados três novos casos. A infeção pelo vírus da monkeypox (VMPX) é uma doença zoonótica, o que quer dizer que se pode transmitir de animais para humanos. Também se pode transmitir pessoa a pessoa. A designação “varíola dos macacos” não se refere à infeção humana, mas sim à infeção nos animais e, por isso, a doença deixou de ser conhecida por esse nome.
Em Portugal, o primeiro alerta para a doença foi em maio de 2022, com a confirmação pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge de cinco casos do vírus mpox. Em junho de 2023, foi identificado um segundo surto. Tal como no primeiro, a quase totalidade dos casos ocorreram em homens com idades entre os 19 e os 64 anos. Já foram vacinadas 9391 pessoas.
Mosquito detetado
Zika em Penafiel, Mértola e Madeira
Em Portugal, foram diagnosticados, pela primeira vez, 21 casos de zika em 2016. Em 2017, foi diagnosticado um caso numa criança com menos de um ano de idade e um novo caso foi notificado em 2020. O mosquito que transmite o zika já foi encontrado na Madeira, em Penafiel e em Mértola, e a DGS elaborou um plano de prevenção e controlo da doença, mas não há casos recentes, confirmados, da presença do vírus. Em abril de 2023, Filomeno Fortes, presidente do Instituto de Medicina Tropical, referiu que existe a possibilidade de surtos epidémicos.
“Basta entrar em contacto com a água para o mosquito eclodir. E este mosquito tem uma característica: infeta-se uma vez e é para toda a vida”, explicou, considerando que a probabilidade de Portugal ter ovos infetados “é grande”.
“A Saúde Pública funciona e está vigilante”
Entrevista a Fernando Maltez, diretor do Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital de Curry Cabral
Há motivo de preocupação perante o surgimento de novos vírus em Portugal?
Não. Temos que estar atentos porque, de facto, há vírus que emergem em locais onde não tinham sido identificados, mas a Saúde Pública funciona e está atenta e vigilante para tratar os casos que podem ser tratados. No caso recente de Bragança, por exemplo, no caso de febre hemorrágica da Crimeia-Congo, só pode ser feito um tratamento de suporte, porque não cura.
Mas há mais vírus ativos?
Não exatamente. Vamos descobrindo mais agentes infecciosos porque há melhores meios de diagnóstico e muito mais controlo. Há dias, uma senhora saiu do Aeroporto de Lisboa diretamente para o isolamento do serviço que dirijo (no Hospital Curry Cabral) por suspeita de vírus. Felizmente, não se confirmou mas, como temos meios de diagnóstico, trabalhamos imediatamente no caso.
Onde estavam os agentes infecciosos que agora estão ativos?
Estavam em locais onde o Homem não entrava e, antes da globalização e das viagens de pessoas e mercadorias, estavam “fechados” em alguns continentes. Sempre que o Homem entra em habitats selvagens faz emergir os vírus. No caso da mpox, a nova variante nunca tinha saído do continente africano mas, de repente, houve uma morte na Suécia.
E há alguma forma de controlar a mutação e as deslocações?
É tudo trabalho da Saúde Pública. O que verificamos é que há mais infeções emergentes em países onde a Saúde Pública está debilitada. Em Portugal, não há motivos para preocupações.