Trajetória atípica deve-se à redução de internamentos, cirurgias e urgências na fase crítica da pandemia. Até maio, gastaram-se 560 milhões de euros.
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A despesa com medicamentos nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) baixou três milhões de euros, de janeiro a maio último, face ao período homólogo de 2019. Uma trajetória pouco comum que se explica pela drástica redução das cirurgias, exames, internamentos e urgências nos meses mais críticos da pandemia covid-19.
Nos primeiros cinco meses deste ano, os hospitais públicos gastaram 560 milhões de euros com medicamentos, menos 0,5% do que no mesmo período de 2019. Naquele ano, a fatura total com medicamentos nos hospitais do SNS cresceu 29 milhões de euros face ao ano anterior, uma tendência que se verifica há anos devido ao aumento da atividade, mas sobretudo por causa dos elevados custos da inovação em doenças oncológicas e no VIH.
Segundo o último relatório de monitorização do consumo de medicamentos em meio hospitalar, do Infarmed, a despesa começa a descer a partir de março, mês em que o país entrou em confinamento e mantém a tendência até maio.
Menos 85 mil cirurgias
A descida coincide com a diminuição da atividade nos hospitais, que naquele período restringiram cirurgias, exames e internamentos ao mínimo para darem resposta aos doentes covid-19. Recorde-se que até maio, segundo informação prestada pela ministra da Saúde no Parlamento, os hospitais realizaram menos 85 mil cirurgias e 902 mil consultas face ao período homólogo de 2019.
No mesmo relatório, pode observar-se que é no internamento, bloco operatório, urgência e na realização de meios complementares de diagnóstico e terapêutica que o consumo de medicamentos mais cai.
No caso do internamento há uma redução de 17,9%, no bloco operatório de 18,5% e na cirurgia de ambulatório de 22,3%, face aos mesmos meses de 2019. Nos exames complementares gastou-se menos 19,4% com medicamentos, enquanto na urgência a diminuição foi de 20,2% face a janeiro a maio de 2019.
Apesar da redução da atividade, os custos com fármacos na área da "consulta externa e produtos cedidos ao exterior"aumentaram 2,4%. A fatura no hospital de dia também subiu 5,1%.
De janeiro a maio, os medicamentos para o cancro e para o VIH voltaram a ser os que mais pesaram na despesa, representando quase metade do total (32% os oncológicos e 14% os do VIH). Nos fármacos para o cancro, a despesa aumentou quase 12 milhões de euros e nos do VIH cresceu 450 mil euros, o que pode ser interpretado como um indicador da continuidade dos cuidados nestas áreas nos meses críticos da pandemia.
SABER MAIS
Lisboa em contraciclo
Os hospitais do Norte tiveram uma quebra na despesa com medicamentos de 1,5% (menos 2,8 milhões de euros) e os do Algarve de 18,5% (3,8 milhões). Em Lisboa e Vale do Tejo, a despesa subiu 1,7% (4,2 milhões de euros).
Mais gastos nos IPO
Os IPO registaram o maior aumento da despesa com medicamentos de janeiro a maio. Nos grandes hospitais gerais os custos recuaram 1,5%.
Medicamentos órfãos
A despesa com medicamentos órfãos (doenças raras) aumentou 6,7 milhões de euros de janeiro a maio, face ao período homólogo, num total de 79 milhões de euros (14% do total da despesa com fármacos em meio hospitalar).