O isolamento forçado a que muitos portugueses estiveram sujeitos durante os meses de março e abril mudou o paradigma das vendas de objetos sexuais.
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As sex shop que ainda não tinham apostado no online acabaram por fazê-lo, o que se refletiu nos hábitos de compras dos portugueses, que preferem agora comprar na privacidade da Internet.
"O virtual é para continuar, porque estamos a vender para zonas do país que antes não vendíamos", refere uma funcionária da Pecado Real, de Braga. A loja apostava pouco no comércio virtual, mas foi obrigada a isso durante a pandemia. Aprimorou o catálogo, modernizou o site e incluiu descontos para compras online. E resultou.
Júlio Machado Vaz, psiquiatra e sexólogo, explica que "é perfeitamente natural que os indivíduos, até em casal, utilizem todos os motores de busca à sua disposição, como o Google, para ter uma experiência sexual. Depois, há aqueles que ficam só por ver, mas outros decidem adquirir este ou aquele objeto".
Durante a pandemia, Francisco Vaz, da "selfsex.pt", vendeu quase o dobro do que venderia num período normal, sobretudo em artigos de estimulação individual: "Notamos um aumento grande, sobretudo nos vibradores e masturbadores". Agora, com o desconfinamento em curso, o tipo de artigo vendido normalizou, mas a procura online continua.
estimulantes e óleos
Os "estimulantes sexuais em comprimidos, óleos para massagens e para aumento do pénis" estão entre os mais vendidos, constata a Pecado Real. Outras lojas contactadas pelo JN confirmam, mas acrescentam que os vibradores e masturbadores continuam a vender-se, bem como lubrificantes e suplementos alimentares.
À aposta no comércio virtual soma-se a preferência do cliente em receber a encomenda em casa. "Ainda há algum pudor em entrar numa sex shop. Há pessoas que entram de forma normal, como se viessem comprar fruta, mas outras não, e até pedem para levar o produto num saco sem marca", atesta um comerciante.
Maria do Céu Santo, ginecologista e obstetra pós-graduada em medicina sexual, explica que o período de isolamento foi "extremamente desafiante", sobretudo para casais que estiveram em casa. Aquela foi uma fase de "teste à relação" que se traduziu "no aumento da visualização de filmes pornográficos e compra de artigos sexuais online, também em casal", acrescenta. Estes comportamentos, até então menos comuns para muitos casais, "passaram a ser uma opção", mesmo agora que a quarentena passou, confirma a especialista.
Saber mais
Sigilo na entrega - Há formas criativas de assegurar o sigilo na entrega dos artigos. Se for em casa, as embalagens estão descaracterizadas, mas há quem opte por deixá-los em cacifos públicos onde o cliente pode levantar pessoalmente depois, com um código.
Descontos online - Nos sites, há vários estímulos à compra virtual. Ali garante-se privacidade, envio gratuito em apenas 24 horas ou descontos que vão até 50%.
Motéis - Em contraciclo com os artigos sexuais, os motéis registaram quebras avultadas durante a pandemia e a retoma está a ser lenta. "A perda de poder de compra prejudicou", diz o gerente do Havay Motel, de Matosinhos.