Conselho de Ministros extraordinário está reunido para reavaliar o estado de contingência, que termina esta quarta-feira, podendo ou não tomar novas medidas.
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O combate à covid-19 deve ser descentralizado para o nível concelhio ou, até, de freguesia. A criação de uma espécie de semáforo, já admitida pelo secretário de Estado da Saúde, está a ser estudada pelo grupo de trabalho para a covid e peritos ouvidos pelo JN recomendam que passe ao terreno. Desde as 9.30 horas desta quarta-feira, o Conselho de Ministros está reunido para aprovar (ou não) medidas que substituam o estado de contingência, que acaba à meia-noite.
O sistema de semáforo, ou de níveis de alerta semelhantes aos que existem no sistema de proteção civil, já foi usado noutros países, para diferenciar os locais com mais e com menos risco de transmissão. "Devemos ter um conjunto de regras uniforme para todo o país e medidas adaptadas ao nível concelhio", disse Manuel Carmo Gomes, professor de epidemiologia na Faculdade de Ciências de Lisboa.
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A cada estado de alerta, ou cor do semáforo, corresponde um conjunto de medidas imediatas. Em cada concelho ou freguesia (nas mais populosas), o autarca e a autoridade de saúde local determinam o risco e o estado a que corresponde. Essa avaliação é feita mediante a conjugação de três fatores, explicou Carmo Gomes: o número de novos casos, a tendência (se está a aumentar ou a baixar) e a qualidade das infeções (por exemplo, se são localizadas ou disseminadas na comunidade).
Entre as vantagens do mecanismo, Carmo Gomes destaca a responsabilização direta das pessoas pelo evoluir da pandemia no local onde vivem. "Esta é uma ameaça coletiva e as pessoas tendem a dizer que os outros é que a devem resolver. Com este sistema, as pessoas sentiriam de forma mais direta que a pandemia depende de si".
O sistema, lembra Bernardo Gomes, "já foi falado". O epidemiologista no Instituto de Saúde Pública do Porto defende uma estratégia em três pilares. Primeiro, assegurar um enquadramento jurídico que respalde as medidas a tomar. Segundo, melhorar a informação sobre a evolução da epidemia a nível local e os procedimentos das autoridades de saúde. Terceiro, mostrar às pessoas que, ao restringirem os contactos, darão "liberdade às crianças para irem à escola e às pessoas para irem trabalhar".
Carmo Gomes reconhece a importância do apoio dos autarcas, para que a diferenciação não leva a qualquer discriminação. E alerta: "As previsões são assustadoras". Esperam-se duas mil infeções diárias, em breve.
Máscara contra os 3 C
Pedro Simas, investigador no Instituto de Medicina Molecular usa uma referência em inglês (os 3 C) para recomendar o uso de máscara em espaços fechados, sempre que há contacto próximo e em multidões, ainda que ao ar livre.
A mensagem, diz, "deve ser muito clara": controlar a pandemia "depende das pessoas e não das instituições".