Com o país a duplicar casos a cada 15, 20 dias, os peritos voltam esta sexta-feira a ser ouvidos no Infarmed.
Corpo do artigo
Na mesa, o reforço de medidas de prevenção - como o uso da máscara, lotação de espaços, testagem ou controlo de fronteiras -, defendido ao longo da semana por especialistas e membros do Governo. Na certeza de que, para já, decisões mais restritivas estão postas de parte. Numa altura em que se sabe que a severidade da covid, face há um ano, é cerca de três vezes inferior. Mas que, se não reduzirmos o crescimento da curva, poderemos chegar ao Natal na casa dos seis mil novos casos diários.
14329259
Os cálculos são do matemático Carlos Antunes, da equipa da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que tem estado a apoiar as autoridades de saúde no combate à pandemia. Tendo por base dados já harmonizados, temos hoje 5% dos casos em Unidades de Cuidados Intensivos quando há um ano (2.ª vaga) eram 15%. Já ao nível dos internamentos, verificamos agora que os internados são 1,3% dos casos ativos contra 3,9% há um ano. Temos hoje "uma severidade três vezes inferior", afirma ao JN, com a explicação na taxa de 86% de vacinação.
Quanto aos óbitos, a análise de Carlos Antunes centra-se nos mais de 70 anos, que respondem por 85% da mortalidade por covid. "Caem para metade", revela. Desmontando: nos maiores de 80 anos temos 35 óbitos por cada 1000 casos, quando há um ano eram 70/1000; na faixa dos 70-79 anos, temos agora 13/1000 casos contra 32/1000. Um rácio que se tem mantido estável. Tanto mais que, vinca, "a segurança agora é que acima dos 80 anos a taxa de incidência não sobe, estando nos 120 casos por 100 mil habitantes a 14 dias. Quando nos 0-9 e 20-29 anos já passou os 240/100 mil".
Contudo, apesar das diferenças evidentes no que à severidade concerne, parece certo que para a semana o país entra em risco elevado, com a incidência nacional a passar os 240 casos/100 mil habitantes. E com uma taxa de crescimento diária na casa dos 3,5% a 4%, com um R nos 1,2, chegará aos 480/100 mil, o último patamar na matriz de risco redesenhada pelo Governo para acomodar o impacto da vacinação. Com o Centro (309/100 mil) e o Algarve (371/100 mil) cada vez mais próximos de chegarem ao risco muito elevado.
É preciso travar agora
Se os dados da severidade desaconselham medidas radicais, a evolução da curva epidemiológica aconselha a intensificação de cuidados. Já sinalizados nos últimos dias. Reforço vacinal dos mais vulneráveis, regresso da máscara em espaços fechados e no exterior em determinadas situações, possível revisão da lotação dos espaços e aposta na testagem. Porque "um crescimento exponencial trava-se quando está no início, o R tem de vir para baixo". Caso contrário, avisa, podemos chegar ao Natal com seis mil novos casos diários.
Com implicações na Saúde Pública, porque obrigaria a ter mil rastreadores e 150 mil testes/dia para manter a taxa de positividade abaixo dos 4%, "recursos que o país não tem". Fora os impactos no Serviço Nacional de Saúde, no absentismo por força dos isolamentos, a que se junta a covid longa, cujos impactos estão ainda por medir. Sem esquecer todas as doenças não covid cujos atrasos, seja de consultas, cirurgias, rastreios, estão ainda a ser recuperados.
Sem nunca descurar a testagem, "fundamental para não enveredar para medidas mais drásticas", diz. A partir de hoje, é retomada a comparticipação dos testes de antigénio. Uma boa notícia, entende Carlos Antunes: "Quando a comparticipação acabou, os testes de antigénio caíram para um terço, fazendo a testagem total cair para metade". Tudo assente "numa mensagem eficaz". Que será determinante.