Pais podem ser impedidos de entrar nos estabelecimentos e refeições servidas em horas diferentes para evitar grupos grandes. Exemplo da Dinamarca e Noruega influenciam decisão.
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O anúncio do primeiro-ministro, António Costa, de que as crianças mais pequenas poderiam voltar às creches a partir de maio levou a que o setor se começasse a organizar para que o regresso seja feito de forma mais segura.
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Susana Batista, presidente da Associação de Creches e Pequenos Estabelecimentos de Ensino Particular, adiantou ao JN que, enquanto não houver indicações mais concretas da tutela, a organização está a preparar "um conjunto de orientações" para minimizar o risco de contágio pela Covid-19 nestes estabelecimentos de ensino.
Impedir que as entregas dos fornecedores se façam durante o horário letivo, não deixar que os pais entrem no espaço ou evitar que as refeições sejam feitas todas no mesmo espaço e promover o mais possível as atividades no exterior, são algumas das medidas que estão a ser estudadas.
Falta de salas e pessoal
De fora fica a hipótese de se diminuir os grupos de crianças por sala. Por um lado, adianta a responsável, porque as creches "não têm mais salas" disponíveis, e, por outro, devido à escassez de recursos humanos. Há profissionais com filhos em idade escolar, que não serrão abrangidos pela medida, e que por isso não vão regressar ao trabalho. E outros que estão em isolamento. Além de que é preciso acautelar aqueles que ainda poderão ficar doentes.
As declarações de Costa foram ambíguas e os responsáveis pelo setor esperam que a medida seja também destinada ao pré-escolar. Até porque muitos dos pais com filhos em creches também têm crianças nesta situação. "As realidades são parecidas. Não faz sentido levar um filho para a creche e o outro ficar em casa".
A análise feita pela Escola Nacional de Saúde Pública, apresentada ao Governo na quarta-feira, também vai nesse sentido. Carla Nunes, diretora da instituição, explicou que foi feita com base nas medidas tomadas em dois países com realidades "que não estão muito longe da nossa" em termos de pandemia: Dinamarca e Noruega. Nestes dois países, as crianças até aos dez anos estão a ser as primeiras a regressar ao ensino.
De acordo com a epidemiologista, a medida tem "um racional interessante". Por se tratar do "grupo etário que tem menor probabilidade" de contrair a infeção. Os seus pais, à partida, serão "jovens trabalhadores com menor risco de doença" e, além de ainda não terem vida social, os mais pequenos não deverão ficar com os avós. Como estes dois países estão atualmente a adotar o regresso à escola, Portugal tem mais 15 dias "para aferir qual o impacto da medida".
Luís Ribeiro, presidente da Associação de Profissionais de Educação e Infância, considera ser "prematuro" avançar com a possibilidade de abrir creches e jardins de infância. "Só estamos nesta situação há um mês. A evolução da pandemia pode ser muito significativa", frisou.
Jorge Ascenção, dirigente da Confederação Nacional das Associações de País, considera que é preciso encontrar "equilíbrio" nas medidas. "O receio que as pessoas têm em regressar em maio será o mesmo do que em setembro", sublinhou, acrescentando que para a reabertura acontecer é necessário o acordo das autoridades de saúde. O responsável apontou outros problemas que afligem as famílias: as crianças na educação especial e as que correm risco de maus-tratos.
A saber
Mais de 240 mil crianças em 2018
Os dados da Pordata revelam que em 2018 estavam inscritas nas creches e jardins de infância 240 231 crianças.
Pagamento das mensalidades
As reduções nas mensalidades e o cancelamento de matrículas até ao final do ano letivo levou a que muitas instituições pedissem apoio ao Governo para evitar a falência.
Um quarto das creches são privadas
Um quarto das 2631 cresces do continente estão no setor privado, a maioria em IPSS.
"Aulas" à distância em alguns casos
Houve entidades que seguiram o modelo da escolaridade obrigatória e iniciaram um sistema de "aulas" por videochamada para os mais pequenos não perderem o contacto com as educadoras. Outras divulgam vídeos com histórias e atividades para se fazerem com os pais.
Mais horas passadas nas creches
Em novembro, o relatório do Conselho Nacional de Educação mostrou que as crianças portuguesas são das que passam mais horas nas creches: em média 40 por semana.