Crianças celíacas deixam de ter apoio do Estado a partir dos dez anos
A partir dos dez anos, as crianças com doença celíaca deixam de receber qualquer apoio do Estado. A denúncia é da Associação Portuguesa de Celíacos (APC), que lamenta o desconhecimento sobre a patologia que afeta 100 mil portugueses e exige que seja criado um abono específico.
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Desde outubro de 2019, com a criação da prestação social para a inclusão (PSI), o abono complementar por deficiência - ao qual os celíacos têm direito - passou a ser dado apenas até aos dez anos. Daí em diante, esse apoio é assegurado pelo PSI, que não contempla os celíacos. Além disso, de acordo com a APC, mesmo aqueles que têm direito ao complemento têm, muitas vezes, o apoio negado. “Muitos desses processos vêm indeferidos porque as pessoas são chamadas a juntas médicas e, como não há nenhuma deficiência, o apoio é negado. Há uma falta de clarificação e de uniformização na forma como estes doentes são tratados”, relata Susana Tavares, presidente da APC.
Também Henedina Antunes, gastroenterologista pediátrica que tem defendido, nas últimas décadas, os doentes celíacos, lamenta que só as crianças até aos dez anos possam usufruir de algum apoio. “Eu acho que o apoio devia ser alargado a todos os doentes. Mas o mais importante, de uma forma imediata, é que todas as crianças tenham direito. As crianças não ganham dinheiro e os pais têm uma despesa enorme para comprar alimentos sem glúten”, justifica a especialista do hospital de Braga, membro do grupo de trabalho sobre doença celíaca da Sociedade Europeia de Gastrenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica.