Crítica de ministra ao centralismo do Governo já tinha sido feita em entrevista ao JN
A titular da pasta da Coesão Territorial já tinha dito o mesmo, há meio ano, ao JN. Desta vez considerou as declarações "infelizes e injustas".
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Na última terça-feira foi dia de festa no Douro, os autarcas exigiram mais investimento na região, Ana Abrunhosa, a ministra da Coesão Territorial entusiasmou-se e, durante o seu discurso, não só lhes disse que sim, como ainda salientou que faz parte "dos governos mais centralistas que o nosso país já teve".
Algumas horas depois arrependeu-se e considerou, em entrevista à Lusa, que as suas declarações foram "infelizes e injustas". Porém, já em junho deste ano dissera algo semelhante ao JN: "[Este Governo] é muito centralizador. É dos governos mais centralizadores com que trabalhei. Precisamos de mais país no Conselho de Ministros."
A comemoração dos 20 anos da inscrição do Alto Douro Vinhateiro na lista do Património Mundial da UNESCO, no dia 14 de dezembro, teve como ponto alto uma sessão evocativa no Teatro Ribeiro Conceição, em Lamego. Encheu-se de autoridades locais e regionais. Durante um debate, o presidente da Comunidade Intermunicipal do Douro e da Câmara de Sernancelhe, Carlos Silva Santiago, aproveitando a presença da ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, repetiu reivindicações que os autarcas andam a fazer há anos: "A reativação do troço da linha do Douro até Barca d"Alva, a construção do IC26 entre Amarante e Trancoso e a melhoria das condições de navegabilidade do rio Douro".
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Quando a ministra subiu ao palco para encerrar a sessão começou por louvar o trabalho feito e os progressos alcançados, para depois ir direta ao ponto que os autarcas queriam ouvir: "Vamos fazer a linha do Douro. É um desígnio deste território. Mal andariam os governos que não apoiassem o projeto".
Falando de quem tem a obrigação de assumir responsabilidades para melhorar a vida de quem resiste no interior, destacou as do Governo, que "tem de deixar de ser tão centralista". Até deu como exemplo o "Instituto da Vinha e do Vinho, que tem sede em Lisboa". "Não há nada mais anacrónico", enfatizou.
Ana Abrunhosa "podia dar muitos mais exemplos", mas não deu. E perante a repetição de "confesso a minha derrota", ouviu-se uma salva de palmas de tom semelhante à que se ouviram antes, no anúncio das obras na linha do Douro.
A seguir, a frase da polémica: "Eu faço parte dos governos mais centralistas que o nosso país já teve e o nosso primeiro-ministro reconhece isso. Esse centralismo acentuou-se com a pandemia". A ministra ainda sublinhou que travou uma "uma batalha de dois anos [no Governo] sem exército", que este "estava no território" e que "sempre que precisava de forças ia ao terreno".
"O Douro tem de reclamar um Estado menos centralista e que no Conselho de Ministros tenhamos mais país, mais território", desafiou a governante, insistindo: "Não podemos continuar a ver o país com as lentes de Lisboa. Estamos muito caladinhos no resto do país. Façam ouvir a vossa voz. Reivindiquem o que é necessário"!
Mais tarde, mais a frio, Ana Abrunhosa reconheceu à Lusa que "as declarações foram feitas num contexto muito específico", mas não deixou de as considerar "infelizes e injustas para com o Governo" socialista ao qual pertence. Que foi o que "promoveu o maior pacote de descentralização de competências para os municípios, para as áreas metropolitanas e para as comunidades intermunicipais", para além de ter "democratizado as eleições das comissões de coordenação e desenvolvimento regional e de estar a fazer o caminho da regionalização".