O cardeal-patriarca, D. José Policarpo, esperava que o presidente Cavaco Silva "usasse o veto político" na lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo e acredita que se o tivesse feito "ganhava as eleições" presidenciais do próximo ano.
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"Pela sua identidade cultural, de católico, penso que precisava de marcar uma posição também pessoal", disse D. José Policarpo, que não compreende as razões invocadas pelo presidente da República quando anunciou a promulgação da lei.
"O discurso levava a uma conclusão que depois não aconteceu. Temos muita dificuldade em ver como é que um veto político vinha prejudicar a crise económica. Aquela relação lógica causa-efeito a mim não me convenceu", referiu o cardeal-patriarca à Rádio Renascença.
No entender de D. José Policarpo, "o argumento principal não era o da eficácia política, era um gesto dele como pessoa, como presidente que foi eleito pelos portugueses e pela maioria dos votos dos católicos portugueses, que se distanciasse pessoalmente: quando assinasse era mesmo porque tinha de ser e naquela altura não tinha de ser".
A notícia hoje aqui referida peca por ser tardia, mas levantou uma polémica que ainda não está esquecida. Muitos estranharam a declaração de D. José Policarpo, mesmo tendo em conta que a argumentação do presidente Cavaco também foi desajeitada. A responsabilidade eclesial do cardeal deveria aconselhá-lo a ser mais prudente ao augurar prejuízos eleitorais na eventualidade de Cavaco Silva se recandidatar à Presidência da República. O patriarca arriscou e jogou uma carta fora do baralho. Não fez jogo limpo.
D. José Policarpo, homem culto e pastor dedicado, com excelente currículo cultural, não deve comportar-se como um comentador político, arriscando palpites sobre vicissitudes conjunturais de qualquer órgão de soberania. Os reparos éticos merecem outra elevação.
Mais prudente foi o presidente da Conferência Episcopal, D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, que se limitou a lamentar que o presidente da República não tivesse ido até ao fim nas suas convicções em relação ao casamento homossexual. Na sua opinião, "não iria prejudicar muito a questão da crise".
Quanto à questão do casamento entre homossexuais, D. Jorge Ortiga, discordando, afirma que cabe à Igreja respeitar a decisão: "Temos que nos adaptar a viver com todas estas situações, não discriminando ninguém".