O projeto Casa Verde começou em 2011, em Sanguedo, Santa Maria da Feira, é uma alternativa à institucionalização que promove a autonomia. Ao todo são 22 agricultores, dos 16 aos 51 anos, com síndrome de Down, paralisia cerebral ou autismo.
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"Aqui estamos a plantar alho. E o alho faz bem a quê?", pergunta Benjamim Pinto, presidente da AMICIS - Associação de Amigos por uma Comunidade Inclusiva. As "manas" Sara e Sónia Alves, de enxada na mão, respondem: "Ao colesterol". Trabalham todos os dias numa quinta em Sanguedo, Feira, e não só cultivam, como regam, colhem, tratam da limpeza e vendem o que produzem. Na oficina Casa Verde, projeto da AMICIS, pessoas com deficiência põem as mãos na terra. Estão prestes a criar a própria cooperativa. Já têm logótipo e slogan: "Cultiva a diferença".
O agricultor mais velho é Joaquim, ou melhor, Quinzinho. Tem 51 anos e síndrome de Down. Estava a pintar caixas para pôr os ovos caseiros que vendem às sextas-feiras à comunidade, juntamente com os legumes. "É o dia das vendas. E o dinheiro vai para a nossa conta, que é de toda a gente aqui. Sou eu que vou ao banco", conta ele, que explica: "Vou lá e assino o meu nome: Quinzinho Ferreira Barbosa".
Transição para a vida
O projeto Casa Verde começou em 2011. A ideia é fazerem ali a transição da escola para a vida ativa. E estão a conseguir. "A horta é um espaço muito polivalente, capaz de se adequar a todas as dificuldades deles. Tanto estão a regar, como a fazer sementeiras ou a colher", explica Benjamim, professor de Educação Especial que criou o projeto já depois da reforma. "É fantástico como é que ao princípio não sabiam contar as ervilhas até cinco e agora já sabem pô-las na terra, cobrir com o ancinho, e perceber por que o fazem".
Fazem entregas ao domicílio e também gerem as receitas das vendas. As manas dizem que "é para comprar uma carrinha", porque a que têm "está velha". O projeto permite enquadrar múltiplos perfis de deficiência e Carla Lima, diretora técnica da AMICIS, diz que vão criar uma cooperativa. "Eles próprios vão geri-la e, quem sabe, criar o próprio emprego".
Em 2016, o projeto passou a fazer parte do contrato local de desenvolvimento social, o que permitiu dar formação aos jovens em agricultura biológica com uma engenheira agrónoma. "Estar ao ar livre dá-lhes uma energia completamente diferente. São cada vez mais autónomos e responsáveis. O trabalho em equipa permitiu-lhes aprender a gerir conflitos e a comunicar, muitos tinham vergonha de falar em público. É uma família", conclui Carla Lima.