Estudo da OCDE justifica alto grau de empregabilidade com forte ligação ao mercado de trabalho. Via tradicional de ensino e graus universitários têm desempenho pior.
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A taxa de empregabilidade das pessoas entre os 25 e os 34 anos que optaram por um curso profissional era mais elevada do que na dos jovens adultos que frequentaram o ensino regular ou que concluíram uma licenciatura. A conclusão é do estudo "Education at a Glance 2020", da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), apresentado ontem. Para a Associação Nacional de Escolas Profissionais (ANESPO), isso sucede porque dão resposta às necessidades do mercado.
O estudo da OCDE explica que Portugal segue o padrão dos outros países da OCDE, já que 88% das pessoas entre os 25 e os 34 anos com curso profissional ou curso técnico superior profissional estavam a trabalhar. No caso dos jovens adultos com o 12.º ano que escolheram a via de ensino científico-humanístico, 83% estavam integrados no mercado de trabalho. Os licenciados tinham uma taxa de 86%.
"Historicamente, as escolas profissionais sempre estiveram muito ligadas às necessidades do tecido económico e social, porque os alunos têm competências ao nível do saber fazer", afirma o presidente da ANESPO, José Presa. "Normalmente, quando as empresas se apercebem das competências técnicas dos alunos, nos estágios, fazem-lhes propostas de trabalho."
Setor quer crescer
Apesar de, de acordo com a OCDE, a percentagem de alunos no ensino profissional ter crescido, em 2018, para 40% em Portugal, José Presa considera este crescimento insuficiente, quando comparado com os países do norte da Europa. "Os alunos são orientados para o ensino científico-humanístico", lamenta.
João Cerejeira, docente universitário, discorda, já que a percentagem média de alunos que seguem a via profissional em Portugal está próxima da média dos países da OCDE, que se situa nos 42%. "Ter uma vocação específica pode limitar o acesso a outras profissões, quando aquela formação perder importância no mercado", alerta. E se reconhece que ter um curso profissional é mais vantajoso, em termos de remuneração, nos primeiros anos, diz que esta diferença tende a esbater-se com o passar do tempo.
João Cerejeira identifica ainda fragilidades no ensino profissional, em relação aos conteúdos e ao formato, sobretudo nas escolas públicas. "Tem de se melhorar a qualidade e a organização do ensino e tem de haver mais flexibilidade para contratar especialistas nas diferentes áreas", exemplifica o especialista, professor na Universidade do Minho.
Pormenores
Idade dos docentes
A percentagem de professores com menos de 30 anos, no Ensino Secundário português, caiu 15%, entre 2005 e 2018. No caso dos países da OCDE, a redução foi de 4%.
Pré-escolar privado
Em Portugal, 47% das crianças frequentavam o ensino pré-escolar em instituições privadas. Em média, nos países da OCDE, a percentagem era de 33%.
Entrada no Superior
A média de idade de entrada no Ensino Superior em Portugal era de 20 anos, em 2018, enquanto a média da OCDE era de 22 anos.
Mais licenciados
Entre 2009 e 2019, o número de pessoas entre os 25 e os 34 anos com licenciatura aumentou 14% em Portugal. A média nos países da OCDE foi de 9%.
Investimento tímido
Entre 2012 e 2017, o investimento por aluno, entre o 1.º Ciclo e o Ensino Superior, aumentou em média 1,3% por ano. Já em Portugal, este valor cresceu 0,9 %, por ano.
Universidade
Portugal investiu 10 mil euros por estudante do Ensino Superior, em 2017, menos 3850 euros do que a média dos países da OCDE.