Cinco pessoas em oficina de Braga fazem milhões de partículas para Europa, América e África.
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A escassez e o aumento do preço da farinha levaram a uma subida de 10% no preço das hóstias e das partículas. O agravamento de custo apanhou de surpresa muitas paróquias, que ainda estavam a tentar equilibrar as contas no pós-pandemia. Portugal tem uma oficina com cinco pessoas, uma das poucas no Mundo com autorização do Vaticano para produzir hóstias sem glúten, que abastece a Europa, América do Norte e do Sul e África.
"É mais um aumento" a pesar, reconhece, ao JN, um responsável por uma diocese face ao custo acrescido com hóstias e partículas. "A diferença é que a maioria dos fabricantes de partículas corresponde a instituições que usam o dinheiro para ajudar pessoas carenciadas e que, por isso, têm que fazer muito bem as contas." É assim em Braga. O Instituto Monsenhor Airosa (IMA) produz, anualmente, 25 milhões de hóstias (usadas pelos padres durante a missa) e partículas (menores do que as hóstias e usadas na comunhão) e dá emprego a cinco pessoas.
A receita ajuda a financiar a casa de acolhimento onde vivem 30 crianças, o lar residencial que acolhe 20 mulheres e a estrutura residencial para pessoas idosas, onde vivem mais dez mulheres. "A oficina das hóstias foi criada no século XIX e nunca parou a produção. Há muitos anos que não subíamos o preço, mas, este verão, tivemos de fazê-lo", refere Bruno Almeida, vice-presidente da comissão administrativa do IMA.
Não são todas iguais
Feitas apenas com farinha e água, as hóstias exigem trabalho e dedicação. Filipa Pimenta, chefe de secção na oficina, conhece o processo do princípio ao fim. "É preciso peneirar a farinha, mexer muito bem, deixar ficar na temperatura e com a humidade corretas." Filipa é de tal forma conhecedora do processo que, quando vai à missa e comunga, consegue perceber "onde foram feitas as partículas". "Não, as hóstias não são todas iguais."
A oficina de Braga é a única em Portugal (e poucas há no Mundo com o mesmo aval) autorizada pelo Vaticano a produzir hóstias e partículas sem glúten destinadas a doentes celíacos. "Fomos pioneiros a nível internacional no fabrico e enviamos para a Europa, América do Sul e do Norte e África", frisou Bruno Almeida. Nos primeiros anos, as hóstias sem glúten, por serem em pequenas quantidades, eram oferecidas. Agora já são pagas, porque os custos da matéria-prima e de fabrico aumentaram.
"O nosso maior custo é a farinha normal ou sem glúten. Está muito cara e, mesmo quando está mais barata, não podemos fazer stock, porque é bastante perecível. Para fazer as hóstias, tem que estar tudo em excelentes condições."
Santuário
Um milhão de partículas só para Fátima
O Santuário de Fátima é maior comprador de hóstias e partículas em Portugal. Em 2019, consumiram-se 15 mil hóstias médias, 320 hóstias grandes e um milhão de partículas e 160 partículas para celíacos em 6811 missas. Com a pandemia, os números caíram a pique. Em 2020, não chegaram às 372 mil hóstias e partículas nas 2784 missas. Em 2021, ficou-se pelos 57 mil . Este ano, será de recuperação.