D. Américo Aguiar em Setúbal "sem cadernos de encargos" e para construir "pontes"

“Vou aprender com os jovens, com os mais velhos, com os de sempre, com os chegados, com os da última hora, com todos, todos, todos. Essa é a minha preocupação, essa é a preocupação que o Papa também nos transmite, de não sermos obstáculo a que os homens e mulheres de boa vontade encontrem Cristo”, afirmou o novo bispo, esta quinta-feira.  

Do Paço Episcopal do Porto e sempre bem disposto, o cardeal Américo Aguiar - que vai  receber os símbolos do cardinalato no dia 30, em Roma - adiantou, ao JN, que quis estar “na sua cidade” [Porto], neste dia, para homenagear o primeiro bispo de Setúbal, D. Manuel Martins. Ambos são naturais de Leça do Balio.

O novo bispo de Setúbal tomará posse no próximo dia 26 de outubro, data em que se assinalam 48 anos sobre a ordenação episcopal de Manuel Martins, que faleceu, em 2017, com 90 anos.  

Sempre de sorriso na cara, D. Américo Aguiar confessou também que do Porto, onde foi presidente da Irmandade dos Clérigos durante cerca de 10 anos, leva o melhor que a cidade tem. “Do Porto levo tudo de melhor que o Porto tem. Nós não somos capazes de outra coisa - os do Porto e os das outras terras certamente também -, mas levo tudo de bom que posso imaginar e vou de braços abertos e com toda a disponibilidade para aprender, porque o único de Setúbal que não percebe nada de Setúbal sou eu”, atirou.  

“Sadinos rezaram tanto que levaram com um cardeal”

O novo bispo lamentou o tempo que a diocese de Setúbal esteve sem bispo. Para D. Américo Aguiar “estas sucessões” devem acontecer “em menor espaço de tempo”, esperando ser “bem recebido” no novo desafio. 

“A Diocese de Setúbal começou a rezar, a rezar, a rezar para ter um bispo novo e rezaram tanto que em vez de um bispo levaram com um cardeal, por isso é preciso ter cuidado com as orações”, disse, em jeito de brincadeira, como é habitual.  

Sem cadernos de encargos para fazer caminho com quem está em Setúbal

Ao JN, D. Américo Aguiar disse ainda que o seu trabalho na diocese sadina será feito ao lado e “com os de Setúbal”, realçando a sua capacidade “fazedora”. “O Papa lembra-nos que o bispo deve às vezes andar atrás, em último, tipo carro-vassoura, para acompanhar as pessoas; às vezes deve ir à frente, a puxar, para que as pessoas tenham coragem e força para fazer o caminho; e outras vezes deve ir no meio, ele próprio a dar o exemplo, junto dos irmãos e das irmãs”.  

“Não levo pré-programa, não levo caderno de encargos, não levo nada. Levo-me a mim próprio, Cristo vive no meu coração para fazer caminho com quem está em Setúbal”, acrescentou.

Recorde-se que o cardeal nomeado Américo Aguiar vai receber os símbolos do cardinalato, no próximo dia 30, no Vaticano. Ao JN, prontamente adiantou que vai pedir “ao Santo Padre que não se esqueça de rezar por mim”.  

Contas da JMJ apresentadas entre outubro e novembro

Durante a conferência de imprensa, que decorreu no Paço Episcopal do Porto, o presidente da Fundação JMJ afirmou ainda que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorreu de 1 a 6 de agosto em Lisboa, “correu bem e deu lucro”.  Segundo D. Américo Aguiar, as contas do evento devem ser apresentadas entre outubro e novembro. "Não ficará um cêntimo para a Igreja Portuguesa, nem um cêntimo", garantiu.

Questionado pelo JN se vai colocar as vítimas dos abusos sexuais no centro do seu trabalho, D. Américo Aguiar realçou que o lugar da vítima hoje é de "prioridade e de importância total". O novo bispo de Setúbal considerou que perante estes casos “a tolerância é mesmo e tem que ser mesmo zero. Tem que ser para a Igreja e tem que ser para toda a sociedade".  

“Nós temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que os e as corajosas que tiveram a heroicidade de abrir o seu coração e partilhar esses momentos negros das suas vidas se sintam acolhidas, protegidas, amadas, cuidadas e acompanhadas", acrescentou.