Novo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa será escolhido em Assembleia Plenária que arranca hoje em Fátima. Bispo de Leiria elogiado por ser um "homem de consensos".
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Os bispos reúnem-se hoje em Assembleia Plenária para eleger um novo líder da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e o nome de D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, é apontado como o mais provável para suceder ao atual presidente, D. Manuel Clemente, que estatutariamente já não pode ser reeleito por ter cumprido dois mandatos consecutivos.
"Naturalmente, será D. António o escolhido. É uma pessoa de consensos, é cardeal, tem um percurso de vida exemplar e deu uma enorme lição ao país" quando tomou a decisão de celebrar o 13 de maio no Santuário de Fátima sem a presença física de peregrinos, como medida de segurança para impedir a propagação da covid-19, adiantou um elemento do Clero ao JN.
O bispo de Leiria-Fátima foi vice-presidente da CEP nos últimos seis anos, cargo que assumiu quando o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, passou a liderar o organismo máximo da Igreja católica em Portugal, depois da renúncia, por limite de idade, do então cardeal-patriarca, D. José Policarpo. Antes, entre 2008 e 2011, já havia exercido a vice-presidência, durante o segundo mandato do arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga.
Idade pode baralhar
Nomeado cardeal em 2018, D. António Marto tem sido voz ativa na defesa da reforma da Igreja em Portugal, dando ênfase às linhas traçadas pelo Papa Francisco, quando pede uma ação pastoral do tipo "hospital de campanha", com mais atenção "às diferentes periferias", um ritmo "sinodal" e "marcadamente laical".
Mas uma eleição por voto secreto é sempre uma incógnita e a questão da idade pode baralhar as contas.
Há outros nomes que surgem: os mais fortes, segundo várias fontes, são o bispo do Porto, D. Manuel Linda, e o bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes. Há ainda quem fale em D. Manuel Quintas, 70 anos, bispo da diocese do Algarve.
O cardeal Marto tem 73 anos, está a dois anos de poder pedir a resignação e se, por exemplo, no início da reunião, declarar que não está elegível por estar próximo do limite da idade, abre caminho para a escolha de um bispo mais jovem e para a Igreja dar um sinal de "renovação", como defendeu, recentemente, D. Manuel Clemente. Num cenário destes, D. Manuel Linda, 64 anos, será um forte candidato, pelo protagonismo que tem vindo a assumir na diocese do Porto e como presidente da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização e, antes, como bispo das Forças Armadas e de Segurança. A sua imagem, porém, terá ficado um pouco afetada, dentro da própria Igreja, por ter recorrido ao lay-off durante a atual crise, realçaram as nossas fontes.
Já D. Virgílio Antunes, 58 anos, embora mais discreto no mediatismo, conta com a admiração de muitos dos seus pares pelo trabalho que tem vindo a desenvolver e também quando foi reitor do Santuário de Fátima.
Há ainda a hipótese do bispo de Bragança-Miranda. D. José Cordeiro tem 53 anos, preside à Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade e tem contribuído para dar visibilidade e dinamizar espiritualmente a região transmontana, mas é considerado ainda "muito novo" para liderar os bispos em Portugal.
Pormenores
Mudança obrigatória
O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, já cumpriu dois mandatos como presidente da CEP e, por isso, não pode ser reeleito. Assumiu o cargo interinamente em 2013, depois da resignação de D. José Policarpo, e foi eleito pelos pares para os triénios de 2014/2017 e 2017/2020.
Voto é secreto
A escolha do presidente da CEP é feita por voto secreto, tendo direito a votar os bispos das 20 dioceses, o bispo das Forças Armadas e de Segurança, e os bispos auxiliares, o que dá um total de 28 eleitores. O processo envolve ainda a escolha dos bispos para liderarem as sete comissões episcopais.
Conselho permanente
O novo presidente da CEP, o vice-presidente e o secretário, com mais quatro bispos eleitos pela Assembleia Plenária, irão constituir o Conselho Permanente, órgão delegado da Assembleia com funções de preparar os seus trabalhos e dar seguimento às suas resoluções.
Reunião abreviada
A Assembleia Plenária da CEP, que se realiza entre hoje e quarta-feira, em Fátima, estava agendada para abril mas foi adiada devido à pandemia. A ordem de trabalhos foi abreviada e o encontro pode até não durar os três dias previstos.