O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, diz que “não se pode adormecer neste momento”, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está a “acabar com a ordem mundial”. E o que vem a seguir “é muito perigoso”.
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Numa entrevista à Rádio Renascença, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) confessa estar “intranquilo” com o atual contexto internacional e, de forma direta, D. José Ornelas compara o discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com o de Adolf Hitler, líder nazi responsável pelo Holocausto. “Não se pode adormecer neste momento”, defende.
“Quando ouvimos dizer ‘America First’ [América primeiro], é a mesma expressão de ‘Deutschland über alles’ [a Alemanha acima de tudo]. É a mesma coisa, os outros todos passam para segundo plano e só têm lugar no mundo depois de nós. É dizer ‘somos nós que ditamos o mundo’”, sublinha D. José Ornelas.
“Isto não é uma ordem, estamos a acabar com a ordem mundial e com a capacidade de todos. É que, depois, o que vem a seguir, e que é muito perigoso, é a questão de dizer ‘a mim serve-me a Gronelândia, a mim serve-me o Canadá’. Isto não pode ser! Isto é o Lebensraum, o espaço vital do Hitler [conceito que determina que toda a sociedade, num determinado grau de desenvolvimento, deve conquistar territórios onde as pessoas são menos desenvolvidas]”, acrescenta.
“A teoria que está por trás disto não me deixa nada tranquilo”, adianta D. José Ornelas: “isto tem de ser tomado a sério”.
O também bispo de Leiria-Fátima explica que não está a “propor um conflito com a América", mas considera "que é importante (…) que a gente se levante”.
“Se nós queremos uma nova ordem e se queremos ter esperança, temos de lutar por ela. Lutar no bom sentido: lutar pela paz, pela justiça, lutar pelo direito e pela dignidade de todas as pessoas”, explica.
O voto é "esperança"
Já no contexto interno, em período de contagem decrescente para as eleições legislativas antecipadas de 18 de maio, D. José Ornelas apela a que "ninguém se abstenha".
“O conselho que neste momento me parece fundamental é dizer que ninguém se abstenha. Vamos votar. Porque a única credibilidade que pode ter, depois, qualquer opinião que nós demos é ‘eu colaborei, não fiquei sentado a ver o que é que os outros decidiam. Eu colaborei com o meu voto’”, afirma.
“Em democracia, o momento do voto é o momento de esperança. Cada um respeitando todo o leque de opções que temos, mas é importante sobretudo participar, e participar-se em consciência e cada eleitor pensar no bem do país e não simplesmente naquilo que sempre foi a minha maneira de votar. Pensar no que é que o país hoje precisa”, pede D. José Ornelas, na entrevista à Renascença.