Prisioneiro de guerra dos Aliados antes de ser padre, Joseph Ratzinger fez carreira no meio académico.
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Nascido e imediatamente baptizado em sábado de Aleluia, Joseph Alois Ratzinger, cardeal, seria a figura mais influente na Cúria romana, quando, num conclave muito rápido, foi eleito Papa, passando a chamar-se Bento, o décimo sexto do nome.
Está impecavelmente conservada a casa de Marktl am Inn onde, a 16 de Abril de 1927, nasceu a criança a que chamaram Joseph Alois, terceiro filho de Joseph Ratzinger, um agente policial, e de Maria, nascida no Sul do Tirol, em zona que hoje é italiana. Valem os sinais o que valem: veio ao mundo na Alemanha entre guerras, mas em plena festividade pascal, recebendo no próprio dia o empurrão sacramental do baptismo, como expressa a nota biográfica oficial do Vaticano.
Ao jovem Ratzinger costuma apontar-se a filiação na Juventude Hitleriana, aos 14 anos, cumprindo uma obrigatoriedade do III Reich. Rezam as crónicas (também oficiais) que a participação foi pouco entusiástica e que, inclusivamente, o pai Ratzinger era opositor do regime nacional-socialista, por o o considerar incompatível com a fé católica. Outra historieta que se conta é a de que o pequeno Joseph, aos quatro anos, fez parte de um grupo de crianças que recebeu, com flores, o cardeal arcebispo de Munique, tendo então dito que queria ser cardeal quando fosse grande.
E foi. Pelo caminho, já seminarista, foi mobilizado, em 1943, para o corpo de defesa anti-aérea. Não chegou a participar activamente no conflito, por doença, mas foi feito prisioneiro de guerra pelos Aliados, sendo libertado após a capitulação da Alemanha. Regressando ao seminário, foi ordenado padre a 29 de Junho de 1951, juntamente com o irmão Georg.
Doutor em Teologia com uma tese intitulada "O Povo e a Casa de Deus na Doutrina da Igreja de Santo Agostinho", iniciou a carreira académica como professor de teologia dogmática e fundamental, passando por várias universidades. No Concílio Vaticano II, a que chegou como consultor teológico do arcebispo de Colónia, desepenhou o papel de "perito". Em Março de 1977, Paulo VI nomeou-o arcebispo de Munique e Freising. Recebeu a ordenação episcopal em Maio seguinte e, em Junho do mesmo ano, foi criado cardeal.
Em 1978, João Paulo I, o primeiro Papa em cuja eleição participou, nomeou-o seu representante no Congresso Mariológico Internacional. Ganhava presença nos corredores do Vaticano, mas foi com João Paulo II, em cuja eleição participou semanas depois, que construiu uma poderosa posição na Cúria, encetada com a nomeação, em Novembro de 1981, para prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Teologicamente tradicionalista, foi sempre dos mais próximos de João Paulo II. Aquando da morte deste, no período de sede vacante, assumiu essa notoriedade, embora, administrativamente, a primazia caiba ao camerlengo. Eleito num conclave rápido, rege a Igreja Católica em função de uma partitura de conservadorismo, ele que é um dotado pianista, devoto de Mozart e de Bach.