Foi na esquina da Rua do Arsenal com o Terreiro do Paço que Buíça atirou a matar sobre o rei D. Carlos. Uma centena de metros à frente, Salgueiro Maia deu o golpe decisivo para abater o regime a 25 de abril de 1974. Na rua dos grandes templos do bacalhau, restam poucos moradores e cresce a gentrificação
Corpo do artigo
Não haverá muitas ruas no país com a dimensão histórica da Rua do Arsenal, em Lisboa, uma paralela ao Tejo, junto ao Terreiro do Paço. Foi ali que, na manhã de 25 de abril de 1974, Salgueiro Maia meteu uma granada no bolso e avançou, disposto a morrer, para enfrentar o brigadeiro Junqueira dos Reis, que comandava as tropas fiéis ao regime. Este deu ordem para abrir fogo sobre a coluna dos revoltosos, mas os seus homens recusaram e passaram-se para o lado do jovem capitão. Estava aberto o caminho para a vitória da revolução.
Foi para o Arsenal da Marinha, na mesma rua, que, 66 anos antes, a carruagem real onde seguia o rei D. Carlos e a família fugiu após ser atacada por elementos da Carbonária. O monarca terá morrido logo ao primeiro tiro disparado por Manuel Buíça, mas o óbito só seria confirmado naquele edifício.
Durante o século XX, com o Cais do Sodré ainda a fervilhar de população, era ali que meia Lisboa - a até gente vinda do Norte - ia comprar bacalhau. Havia várias casas especializadas. Hoje, apenas a Pérola do Arsenal, que existe há 84 anos e se mantém na mesma família, mantém a decoração antiga.
Com o "boom" turístico, a rua perdeu população e comércio. Hoje dominam as lojas de recordações e os hostels. Ali dormem muitos turistas que visitam a capital. Não sonharão com os pedaços de História que se respiram das janelas dos quartos reconvertidos. v