Foi dos poucos críticos internos do "costismo". Ao JN, lembra que andou oito anos a "clamar no deserto" contra as "más práticas" no PS. Questionado sobre se coloca a hipótese de se candidatar à liderança, responde: "Não coloco nem afasto". Primeiro, irá avaliar os programas de Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro.
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"É preciso uma profunda renovação do PS", sustenta Daniel Adrião. Isso, considera, exige um corte "com as más práticas" dentro do partido, o que "só se faz com novos protagonistas". "O PS precisa de mudar de vida", argumenta o membro da Comissão Política Nacional dos socialistas.
Questionado sobre se coloca a hipótese de avançar com uma candidatura a secretário-geral, Adrião, que também lidera a corrente minoritária do PS, responde: "Não coloco nem afasto". Primeiro, diz querer ouvir os militantes. "Isto foi um grande choque, as pessoas ainda estão um bocado atordoadas", frisa, acrescentando que "é preciso tempo" para responder aos desafios.
Daniel Adrião, que tentou chegar à liderança do PS em 2016, 2018 e 2021, sente que essas suas três candidaturas "foram úteis" ao partido: trouxeram às discussões "vozes livres", embora "por vezes abafadas", relata. Agora, diz que irá "avaliar a situação" de modo a perceber se o seu contributo "é importante ou não". Garante que, se avançar, não o fará por uma questão de "ambições pessoais".
Só admite apoiar candidatos que não sejam "a continuidade do costismo"
Antes de decidir se avança, Adrião quer estudar as propostas políticas de Pedro Nuno Santos e de José Luís Carneiro, os dois mais do que prováveis candidatos. Diz que o facto de Pedro Nuno já ter feito saber que pretende a realização de eleições primárias é um "sinal positivo", mas alerta que é preciso não ficar por aí.
Se, por outro lado, Adrião constatar que as candidaturas existentes são "a continuidade do costismo", rejeitará apoiá-las. Nesse cenário, a probabilidade de ele próprio avançar aumenta.
O crítico de António Costa admite ter ficado surpreendido com os acontecimentos que levaram à queda do primeiro-ministro, que descreve como "impensáveis". Ainda assim, e embora fazendo votos para que Costa "possa refutar todas as suspeições", argumenta que este desfecho foi "consequência" das "más práticas" instaladas internamente.
"Há sete anos que eu ando a falar disto dentro do partido. Andei estes anos todos a falar sozinho, praticamente a pregar no deserto", lamenta Adrião.
O antigo candidato à liderança do PS pertence à Comissão Política Nacional do partido, que se reúne esta quinta-feira para discutir a situação política do país.