De Camões a Sophia de Mello Breyner: Papa cita poetas e escritores portugueses
Desde que chegou a Lisboa, o Papa Francisco já citou vários poetas e escritores portugueses. De Camões a Sophia de Mello Breyner, a Fernando Pessoa e a José Saramago, passando pelos fados de Amália Rodrigues, Francisco mostra que conhece a literatura nacional.
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Na sua primeira intervenção, no Centro Cultural de Belém (CCB), perante as mais importantes individualidades portuguesas, o Sumo Pontífice marcou o discurso com a "imagem do oceano".
"Não muito longe deste lugar, no Cabo da Roca está gravada a frase de um grande poeta desta cidade: 'Aqui onde a terra se acaba e o mar começa'", disse Francisco, citando Luís Vaz de Camões, na parte do canto III, estrofe 20 de "Os Lusíadas".
Na intervenção, sempre centrada no papel de Portugal no Mundo, chamou a si "aquilo que os portugueses costumam cantar". "Lisboa tem cheiro de flores e de mar", acrescentou, citando um poema de César de Oliveira, imortalizado por Amália Rodrigues. Francisco, sem cantar, encantou os presentes no CCB ao recordar o fado “Cheira bem, cheira a Lisboa”.
No rol dos poetas, seguiu-se Sophia de Mello Breyner e o mar. "Muito mais do que um elemento paisagístico, o mar é um apelo que não cessa de ecoar no ânimo de cada português”, disse Francisco. E continuou: “podendo uma vossa poetisa celebrá-lo como ‘mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim’, numa referência ao poema "Mar Sonoro", incluído na Obra Poética I de Sophia.
Em Lisboa, não podia faltar Fernando Pessoa. Numa cidade "abraçada pelo oceano", que oferece a todos "motivos para esperar", o Papa cita “Navegar é preciso; viver não é preciso. O que é necessário é criar”. Citou ainda o poeta Daniel Faria: “Deus do mar dá-nos mais ondas, Deus da terra dai-nos mais mar”.
Ao que tudo indica, com a colaboração do Cardeal Tolentino de Mendonça, também poeta, para redigir os discursos, houve uma chamada a José Saramago. "O que dá verdadeiro sentido ao encontro é a busca; e é preciso andar muito, para se alcançar o que está perto”, referiu, numa clara alusão ao livro "Todos os Nomes", publicado pelo Prémio Nobel.
Na Universidade Católica Portuguesa (UCP), no segundo dia da presença de Francisco na JMJ, voltou Fernando Pessoa e o “modo atormentado mas correto, em que ser descontente é ser homem”, referido na Mensagem, O Quinta Império. Mais à frente, depois de falar na necessidade de o estudo não ser visto” apenas como uma licença para construir o bem-estar pessoal, mas como um mandato para se dedicar a uma sociedade mais justa e inclusiva”, voltou a citar Sophia.
"Numa entrevista que é uma espécie de testamento, à pergunta 'o que gostaria de ver realizado em Portugal neste novo século?', respondeu sem hesitar: "Gostaria que se realizasse a justiça social, a diminuição das diferenças entre ricos e pobres", recordou o Papa Franscisco. Na conversa com os universitários, veio-lhe "ao pensamento uma frase do escritor Almada Negreiros". "Sonhei com um país onde todos chegavam a Mestres", disse o Papa, bebendo o texto na A Invenção do Dia Claro.