De crianças a adultos, a geração pobre e sem juventude abafada pela ditadura
Democracia permitiu novo rumo para os adolescentes e para os movimentos católicos operários. Antes, ser pobre e mulher era quase uma condenação
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“A grande maioria dos nascidos antes do 25 de Abril de 1974 não puderam ser jovens nem crianças porque, por volta dos 10 anos de idade, começavam a trabalhar no mesmo setor em que os pais já trabalhavam”, afirma João Teixeira Lopes, sociólogo e ex-dirigente do Bloco de Esquerda. As diferenças sociais eram tantas, que o coordenador do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto refere que “a probabilidade de um jovem das classes populares entrar na universidade era 700 vezes inferior às de um jovem nascido nas classes favorecidas”.
A pobreza e a falta de perspetivas levaram os jovens a procurar apoios. “Com todas as suas debilidades, foi a Igreja Católica e concretamente, alguns padres, que, no Minho, ajudaram os jovens a suportarem a violência da ditadura”, afirma Fátima Almeida, 66 anos, residente em Braga, católica e membro dos movimentos católicos operários há mais de cinco décadas. Nos 50 anos do 25 de Abril, a ex-presidente do Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos (MMTC) não esquece a forma organismos como a Juventude Operária Católica (JOC) foram “essenciais para despertar consciências”. “Era impensável não ser católico durante a ditadura mas, no norte do país, em muitas paróquias, para além da catequese, existia a pré-JOC, separada por rapazes e raparigas, e era nesses grupos que “muito suavemente” se começava a falar de coisas proibidas”, recorda Fátima Almeida.