Instituições europeias, governos nacionais, partidos políticos e até as igrejas devem questionar-se se contribuem o suficiente para a consciência europeia.
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Aabstenção nas eleições para o Parlamento Europeu (PE) superou a registada há cinco anos. Desde 1979, quando os deputados europeus começaram a ser eleitos por sufrágio directo e universal, as eleições para o PE revelam crescentes taxas de abstenção. Não se diga que é um episódio conjuntural. Se o fosse, como se justificaria o desinteresse dos cidadãos europeus nos últimos 30 anos? Quereremos construir uma Europa à revelia dos cidadãos?
Façamos as contas: 63% dos eleitores portugueses não votaram. Some-se a esses mais 4,6% de votos em branco e mais 2% de votos nulos. Resultado: são poucos os portugueses que confiam nos partidos políticos. A que se deve tal divórcio, quando, nas primeiras eleições após o 25 de Abril de 1974, votar era uma festa cívica e política - lembram-se?
O mal é que os partidos mostram-se arrogantes quando optam por propostas "fracturantes", como se fossem os intérpretes da maioria do país!
Tem razão o presidente da Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE), D. Adrianus van Lyun, ao dizer que as instituições europeias, os governos nacionais, os partidos políticos e talvez até as igrejas deveriam questionar-se se a sua contribuição foi suficiente para fazer crescer uma consciência europeia nos cidadãos nacionais. O presidente da COMECE e bispo de Roterdão lamenta "a baixa participação", que, na sua opinião, "é sinal de que ainda falta uma sociedade civil europeia".
Portugal tem beneficiado da sua integração europeia, mas nem tudo corre sobre rodas. Basta ver - o que desagrada aos cristãos - como algumas directivas revelam que há grupos influentes que desmentem as raízes cristãs da matriz europeia, decidindo sobre assuntos que deveriam ser mais dos parlamentos nacionais do que do europeu. É o caso, por exemplo, do aborto, da família, da educação e da presença pública das religiões.
Há quem teime que a política, mais do que defender e preservar o bem comum, salvaguardar e fazer aplicar a justiça e os direitos humanos, se deve entreter com questões "fracturantes", mesmo quando a crise económica coloca os cidadãos à beira do desespero. É também a arrogância do laicismo que pretende remeter a religião para a vida privada, para que não haja uma instância profética que advirta a Europa a que não ceda ao relativismo doutrinal e ético.
