A má prática no Amadora-Sintra pode vir a dar em sanções disciplinares. Há quatro entidades a investigar "mortalidade e mutilações desnecessárias".
Corpo do artigo
A Ordem dos Médicos (OM) nomeou o presidente do Colégio de Especialidade de Cirurgia Geral, para fazer uma análise às denúncias feitas por cirurgiões do hospital Fernando Fonseca (HFF), também conhecido por Amadora-Sintra. Dois cirurgiões, um deles será o ex-diretor do serviço, disseram haver más práticas na unidade, que resultaram em "mortalidade e mutilações desnecessárias de utentes". O presidente do Conselho Regional do Sul da OM afirmou estar "a acompanhar com preocupação" e admitiu haver sanções disciplinares, caso se confirmem os factos.
Alexandre Valentim Lourenço referiu ao JN que o processo de averiguações da Ordem, solicitado pelo conselho de administração do hospital Amadora- Sintra, não está "a ser liderado por um perito qualquer". "É o presidente do colégio de especialidade", adiantou. A notícia avançada pelo semanário "Expresso" dá conta de pelo menos 22 casos onde há suspeita de ter existido situações de negligência, como por exemplo, utentes avaliados por jovens médicos "inexperientes" e doentes submetidos a cirurgias oncológicas, quando não tinham tumores.
Avaliar para decidir
Num vídeo nas redes sociais do hospital Fernando Fonseca, a diretora clínica Ana Valverde afirmou que, após ter conhecimento de uma "exposição escrita do ex-diretor do serviço de cirurgia", a administração tomou as diligências necessárias de "imediato". Abriam um inquérito interno, pediram um processo de averiguações por um perito independente à OM e comunicaram o caso à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS). Também a Entidade Reguladora da Saúde anunciou esta sexta-feira a abertura de uma investigação.
"O trabalho [de averiguação da OM] está a decorrer e esperamos ter informações em breve. (...) Aguardamos a análise da peritagem para podermos tomar as medidas adequadas", explicou o presidente do Conselho Regional do Sul da OM, o órgão que terá de intervir caso se verifiquem as más práticas. A "avaliação concreta" permitirá perceber se existe uma "responsabilidade individual, e se alguém terá de ser sancionado disciplinarmente, ou coletiva, se o conselho de administração não fez o que lhe competia".
Ainda de acordo com o "Expresso", que cita fonte ligada ao processo, os resultados preliminares mostram que nos primeiros dez casos suspeitos não houve violação das regras. Mais tarde, a IGAS precisa ao JN que "não abriu qualquer processo" sobre a situação. Após ter conhecimento do sucedido pelo presidente do conselho de administração do hospital Amadora-Sintra, o órgão inspetor vai aguardar pelas conclusões do processo de inquérito interno da própria unidade.
O bastonário da Ordem dos Médicos disse à RTP não ser possível "dizer exatamente o que aconteceu", enquanto a "investigação não estiver completa". Até ao fecho desta edição, não foi possível falar com Miguel Guimarães.
Já Valentim Lourenço adiantou que os "processos clínicos dos utentes", sobre os quais há denúncias de terem estado sujeitos a más práticas, estão a ser analisados pelo perito da OM.