PSD, Iniciativa Liberal e Bloco de Esquerda manifestaram, esta quarta-feira, muitas dúvidas sobre o objetivo da expansão da capacidade do bloco de partos do Hospital de Santa Maria, que encerra para obras a 1 de agosto, suspeitando que o objetivo será fechar maternidades em Lisboa e Vale do Tejo.
Corpo do artigo
Durante uma audição na Comissão de Saúde, Ana Paula Martins, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, explicou que em janeiro passado havia um plano para requalificação da maternidade do Hospital de Santa Maria, que tem 70 anos, nunca sofreu obras e está em "más condições". Mas, acrescentou, a pedido da Direção-Executiva do SNS e do Ministério da Saúde, este projeto foi alterado para requalificar e aumentar a capacidade do bloco de partos para poder vir a realizar mais 1500 partos por ano.
Na mesma audição, Ana Paula Martins admitiu a falta de recursos humanos do serviço, reconhecendo que muitos médicos saíram para o privado, que dá melhores condições de trabalho, não exige tantas horas extraordinárias e dá mais previsibilidade aos obstetras.
As perguntas dos deputados não se fizeram esperar. "Vai fazer obras para aumentar a capacidade quando já não tem capacidade de recursos humanos para a atual maternidade?", questionou Catarina Martins. Para a deputada do Bloco de Esquerda, "ou estamos perante a administração mais incompetente de que há memória" ou há intenção de fechar maternidades em Lisboa e Vale do Tejo ou de entregar o novo bloco de partos a privados ou então as duas hipóteses combinadas.
Na resposta sobre os recursos humanos, Ana Paula Martins referiu que a ampliação pedida pela tutela e DE-SNS de 1500 partos é a lotação máxima e não é expectável que seja atingida nos primeiros anos.
Relativamente aos objetivos da DE-SNS e do Ministério da Saúde, foi mais evasiva: "Não posso responder se está previsto outro tipo de reorganização que não cabe a este conselho de administração", afirmou a administradora.
BE insta administradora a demitir-se do cargo
Minutos antes, Catarina Martins afirmou que Ana Paula Martins devia demitir-se ou ser demitida por incapacidade de diálogo com o serviço de Ginecologia e Obstetrícia, do qual foi recentemente exonerado o seu diretor, Diogo Ayres de Campos.
Para a deputada da Iniciativa Liberal, Joana Cordeiro, ficou "evidente que há um plano maior que não está a ser explicado" porque "quando se aumenta para o dobro o número de partos vão ser precisos mais profissionais e isto vai naturalmente significar que outras maternidades vão fechar".
Também o PSD, pela voz do deputado Adão Silva, fez as contas ao acréscimo de partos e perguntou "onde está previsto o encerramento de maternidades". "É um estímulo muito grande para este inverno demográfico", afirmou o social-democrata.
"Não é possível não fechar em agosto"
Na audição, realizada a pedido do Chega sobre o plano para a resposta de Obstetrícia e Ginecologia traçado pela Direção-Executiva do SNS, o deputado Pedro Frazão avisou a administradora do CHULN que arrisca ficar "com paredes muito bonitas" mas sem ninguém para lá trabalhar.
Questionada várias vezes sobre a necessidade de encerrar a maternidade durante um período de 9 meses, transferindo grande parte do serviço para o Hospital S. Francisco Xavier, Ana Paula Martins foi perentória. "As obras justificam o encerramento porque vamos intervir em três pisos simultâneamente e não podemos fazê-lo com o bloco de partos a funcionar. Não é possível não fechar em agosto", reiterou, realçando que se manterá a resposta para "a proteção perinatal diferenciada".